O fato de ter ficado os últimos 12 anos atuando como parlamentar federal em Brasília - sendo oito como deputado e um mandato de senador interrompido na metade – parece não ter dado ao governador Gladson Cameli (PP) a melhor das habilidades para uma relação sólida e harmoniosa com os demais Poderes, incluindo a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac).
Nestes últimos seis meses, ele enfrentou derrotas no Parlamento e vê a sua base de sustentação dando muito mais dor de cabeça do que a oposição – estando essa em ampla desvantagem numérica. Entrando no segundo semestre à frente do Palácio Rio Branco, o chefe do Executivo caminha para enfrentar desgastes na relação com mais um Poder: desta feita, o Judiciário.
Além do cabo-de-guerra que trava com a juíza Luana Campos, da Vara de Execuções Penais, por conta de benefícios que podem ou não ser concedidos aos presos do regime fechado - como acesso a aparelhos de TV e ventiladores -, o governo passou a culpar os magistrados acreanos pela atual crise da segurança, que foi ampliada nos últimos seis meses.
No início desta semana, durante entrevista a um programa de TV, Gladson Cameli afirmou que os policiais têm receio de fazer seus trabalhos por conta da atuação do Judiciário. De acordo com ele, muitos agentes da segurança estariam desmotivados a agir por conta do “prende e solta”.
Ou seja, o fato de os policiais fazerem as prisões de suspeitos em flagrante e, tão logo apresentados aos juízes durante as audiências de custódia, serem liberados por seus delitos não terem sido considerados graves para que sejam enviados a presídios já superlotados.
As declarações, óbvio, causaram um mal-estar na relação com a magistratura. Para minimizar os efeitos das declarações, a equipe de comunicação do Palácio Rio Branco se viu obrigada a emitir nota afirmando que Cameli não tinha a intenção de fazer críticas ao Judiciário.
O governador teve até que fazer um telefonema para o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Francisco Djalma, para um pedido de desculpas e reiterar seu compromisso com o Poder.
No andar de baixo, os gestores da Segurança Pública - em particular o Instituto de Administração Penitenciária (Iapen) - estão em confronto com a Vara de Execuções Penais. A decisão de sempre recorrer das sentenças de Luana Campos mostram o pouco apreço do atual governo com a magistratura da primeira instância.
Ao invés de buscar uma relação harmoniosa com a juíza, o Iapen vai para o embate, acionando o gatilho para a explosão de um barril de pólvora em que está o sistema carcerário acreano. É de conhecimento público que já há alguns anos os presídios do Acre estão superlotados e dominados pelas facções criminosas.
Ao que tudo indica, Gladson Cameli parece nada estar vendo, e contribui para ampliar as rusgas da relação do Executivo com os demais Poderes. Aliás, deixar as coisas soltas é uma das características destes seis meses de PP no governo do Acre.
Os primeiros sinais de desgaste com o Judiciário são um claro sinal de que Gladson Cameli ainda não incorporou a liturgia do cargo que ocupa, e muito ainda lhe falta para ser visto como um estadista. A boa notícia é que ainda faltam três anos e seis meses para reparar estes danos iniciais.