Médico local faz uma leitura favorável da cidade registrar nove casos confirmados de coronavírus
Trêmula, a mulher de meia idade chega à primeira sala de triagem da Unidade Mista de Saúde de Acrelândia reclamando da falta de ar. Pele pálida e boca ressequida, a dona de casa quer fazer o teste para saber se foi contaminada por coronavírus. Mas logo a enfermeira de plantão descobre que ela tem bronquite asmática e problemas de pressão arterial.
Passado o susto, confirma que a crise de ansiedade a atacou quando ela topou na rua um vizinho que acreditou estivesse positivo para a Covid-19.
A cidade, de 15 mil habitantes, a 120 quilômetros de Rio Branco, até domingo, 4, registrava 9 casos de contaminação pela doença, atrás apenas de Rio Branco em número de pessoas infectadas. Eram 8 até a sexta-feira, 3, tendo ido para 9 no domingo.
da Hora
Na quinta-feira, 2, duas equipes da Diretoria de Assistência e do Departamento de Vigilância em Saúde, ambos setores da Secretaria de Estado de Saúde do Acre (Sesacre), estiveram com técnicos no município para fazer o alinhamento de algumas ações para as próximas fases de enfrentamento à pandemia, com o prefeito Ederaldo Caetano e as autoridades municipais de Saúde.
Já na manhã de sábado, 4, o secretário de Estado de Saúde do Acre, Alysson Bestene, anunciava que uma ambulância do Serviço Móvel de Urgência e Emergência (Samu) vai estar à disposição da Secretaria de Saúde de Acrelândia em regime de 24 horas.
“A ambulância é equipada com uma UTI móvel, com equipamento de respiração mecânica, e pode se deslocar a qualquer momento de Rio Branco para o município, se for necessário”, informa Bestene.
Paralelo a isso, o Governo do Estado vai disponibilizar mais enfermeiros e técnicos de enfermagem para o município. “Vamos reforçar a nossa equipe lá, ajudando os nossos parceiros de Acrelândia a enfrentar esse momento da melhor maneira possível”, completou o secretário de Saúde.
O prefeito Ederaldo Caetano pediu ao Estado que o batalhão da Polícia Militar na cidade auxilie na orientação à população e ao comércio para que obedeçam à quarentena, entre outras ações necessárias no município. “Precisamos do apoio do Estado para fazer cumprir a lei. Temos ainda muitos bares, por exemplo, abertos, pessoas descumprindo as normas no comércio”, apelou Caetano.
A sua reivindicação foi repassada para a Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Acre, que providenciará o reforço.
“Em pouco tempo teremos um controle da infecção”, diz médico da unidade
Para o médico Rapahel Araújo, coordenador-técnico da Unidade, o fato do seu município estar entre os primeiros em número de casos testados positivos para a doença não deve ser visto como algo negativo.
“Nós queremos tranquilizar toda a população do Acre e de Acrelândia, acalmar as pessoas assustadas neste momento, com alto número de casos no município, porque isso [casos confirmados muito altos] indica que tanto a Secretaria Municipal quanto a Secretaria Estadual de Saúde, em parceria, estão fazendo um excelente trabalho”, entende Araújo.
O profissional chama a atenção para um fato importante, o de que é fundamental que o serviço de coleta de amostras esteja funcionando da melhor forma possível para que sejam evitados cenários que não correspondam à realidade em tempo de pandemia.
“Quando não tem nenhum caso confirmado, a gente tem de indagar: não tem nenhum caso mesmo, ou será que o diagnóstico está feito corretamente? Aqui [em Acrelândia] podemos dizer, claro, que não vamos conseguir detectar todos. Mas posso assegurar que temos hoje mais de 80% dos casos confirmados monitorados, o que indica que em muito pouco tempo teremos um controle da infecção aqui no município”, afirma Raphael Araújo.
Primeiros casos de infecção chegaram de Plácido de Castro
Com o auxílio da fisioterapeuta Karla Lemos Araújo, Raphael Araújo foi o primeiro profissional a encarar com muita seriedade os casos suspeitos de coronavírus no município.
O casal descobriu que os primeiros moradores de Acrelândia foram infectados em Plácido de Castro, cidade vizinha de Acrelândia, a menos de 40 quilômetros uma da outra, onde, no início de março, um político, que também pegou o vírus de um idoso de 81 anos de Capixaba, esteve para uma reunião na casa de uma pré-candidata à prefeitura local.
“Detectamos que a maioria daqui teve contato com o político nesta reunião, o que curiosamente, fez com que as pessoas pensassem que o foco estava aqui em Acrelândia”, explica o médico.
Neste sábado, 4, o último boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde do Acre mostrou que das 25 notificações no município, 9 deram positivo, enquanto que 8 foram descartadas e outras 8 aguardam a análise do Centro de Infectologia Charles Mérieux.
É ele e Karla que fazem a maioria das coletas na unidade, com o afastamento imediato de profissionais de Saúde em situação de risco por doenças crônicas e os mais idosos.
Com a chegada de mais enfermeiros e técnicos de enfermagem da Sesacre, a sobrecarga de trabalho tenderá a reduzir consideravelmente.
Diagnóstico permitiu interromper cadeia de transmissão
O coordenador da Unidade Mista de Acrelândia ressalta que a celeridade do Centro Mérieux foi fundamental para que, nas primeiras 48 horas que chegaram os resultados na cidade, a Saúde do Estado e do município tomassem as providências necessárias para conter o avanço da doença.
“Com os primeiros resultados, fizemos a busca ativa de todos esses pacientes, interrompendo a cadeia de transmissão e reduzindo a proporção de infectados aqui no município”, frisa Raphael Araújo.