Entre as denúncias contra ele, está o não pagamento de diárias a um hotel de Cruz das Almas, na Bahia. A conta deixada para trás por Frederico Aurélio Bispo não chegava a R$ 500
A disputa pelo contrato milionário do setor de ortopedia da Secretaria de Saúde do governo do Acre vem ganhando contornos de guerra empresarial. Após denunciar ao programa Fantástico, da Rede Globo, possível esquema de superfaturamento em contratos da Medtrauma com o governo do Acre, Mato Grosso e Roraima, o empresário goiano Frederico Aurélio Bispo, dono da Síntese Comercial Hospitalar, é acusado de cometer crimes de estelionato quando disputou uma cadeira de deputado estadual e por tráfico de influência na época em que ocupou um cargo no Senado Federal. As informações fazem parte de um dossiê elaborado pelas supostas vítimas do empresário.
Segundo os denunciantes, Bispo responde a diversas queixas-crimes registradas na cidade de Anápolis no ano de 2018, por suposta prática de estelionato. Em pelo menos dois desses registros, um datado de 01/11/2018 e outro de 08/11/2018, onde as vítimas afirmaram que trabalharam para o empresário durante a campanha eleitoral daquele ano e foram pagas com cheques sem fundo. Outro registro com data de outubro de 2018 a vítima também relata o mesmo golpe, pagamento com cheques sem fundo.
Existe ainda um Boletim de Ocorrência registrado na 1ª Delegacia de Polícia da cidade de Macapá, capital do estado do Amapá, onde um homem acusa Frederico Bispo de ameaça de morte e injuria racial.
Em 2020, uma outra acusação foi feita contra Frederico Aurélio Bispo. Ele é acusado de exercer a advocacia sem o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Trecho da denúncia diz que Bispo “não é advogado registrado, porém o mesmo vem desempenhando papel e funções de advogado, concorrendo deslealmente com a classe e exercendo ilegalmente a profissão, angariando clientes e causas nas inúmeras esferas desse país”.
Mas, o mais interessante de todas as denúncias formalizadas por pessoas que apresentam reclamações contra o empresário, está o não pagamento de diárias a um hotel em Cruz das Almas, em Maceió. Consta que Frederico ficou hospedado entre os dias 25 e 27 de abril de 2009. Entre diária e os custos de despesas com consumo, a conta fechou em R$ 480. Só que o hóspede não pagou a conta e simplesmente fugiu, deixando para trás um cartão de visitas da vice-presidência do Senado Federal.
Bispo é recebido com tapete vermelho na Aleac
Ontem (27), Frederico Aurélio Bispo foi recebido na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) por deputados de oposição. Na conversa, nenhuma novidade além daquilo que já havia sido exposto pelo empresário ao programa dominical da Rede Globo. Aurélio Bispo explanou aos parlamentares o que “investigou” por conta própria sobre a empresa responsável por administrar a ala ortopédica dos hospitais públicos, em Rio Branco, além de outros dois estados.
Ao final do encontro com os parlamentares acreanos, Frederico Aurélio Bispo deixou as dependências do Poder Legislativo acompanhado de dois seguranças armados. Questionado se temia por sua vida, o denunciante esboçou um sorriso de canto de boca e saiu.
Mas, causa estranheza e questionamentos o real motivo para o empresário goiano ter desembarcado no Acre, Estado tido como o epicentro do suposto esquema criminoso. Seria Frederico Aurélio o Robin Hood dos tempos modernos? Ou apenas um cidadão brasileiro inconformado com os milhares de escândalos e casos de corrupção que ocorrem Brasil afora?
No momento não se tem uma resposta para essas perguntas, mas há aqueles que apostam que os motivos seriam outros, bem menos nobres do que o praticado por aquele herói mítico inglês que roubava da nobreza para dar aos pobres. Segundo relatório apresentado contra Bispo, ele trava uma disputa empresarial com a MedTrauma, empresa que celebrou contratos com gestões que encerram suas parcerias com a empresa Síntese Comercial Hospitalar, onde Bispo seria executivo.
O que se sabe é que Frederico Aurélio Bispo é empresário do ramo de materiais hospitalares e que estaria peregrinando pelos estados onde a empresa MedTrauma é investigada pela Controladoria-Geral da União (CGU) e que resultou em um relatório onde se destaca um suposto esquema de superfaturamentos e cirurgias ortopédicas desnecessárias, para expor as denúncias.
Após suas denúncias contra a MedTrauma e gestores da área de saúde em Mato Grosso, Aurélio Bispo responde a oito processos pelos crimes de calúnia, injúria e difamação. As ações foram protocoladas por pessoas citadas e gestares que tiveram algum tipo de envolvimento nos contratos com a empresa rival da Síntese Comercial Hospitalar no mercado de fornecimento de materiais e cirurgias ortopédicas.
Aurélio Bispo também figurou em alguns episódios de investigação em âmbito nacional. Uma matéria publicada no portal de notícias do Senado Federal, datada de 14/08/2012, com o título “CPI reconvoca Cachoeira, quebra sigilo de sua mulher, e marca depoimento de Cavendish”, o nome de Aurélio Bispo aparece na publicação como acusado de exercer tráfico de influência junto a autoridades de Goiás e teve requerimento de quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico aprovados pelos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito, naquela ocasião.
Em abril de 2009, o Portal Terra trouxe a publicação “Senador exonera assessor que teria pedido favor à PF”. Na época dos fatos, o empresário era “assessor da vice-presidência do Senado e teria fretado um jato particular para ir a Maceió interceder junto à superintendência da Polícia Federal por um empresário da cidade”, diz a matéria, que continua: “Frederico Aurélio Bispo, que trabalha no gabinete do senador Marconi Perillo (PSDB-GO) em Brasília, foi até a capital alagoana para pedir, usando uma possível influência exercida pelo cargo que ocupa, porte de arma para Walmer Almeida da Silva, dono de uma revenda de veículos em Maceió”.
A reportagem fez contato com pessoas que estiveram presentes na reunião na Aleac para obter o contato de Frederico Bispo, mas não conseguiu o número do telefone do empresário. O espaço para questionamentos e posicionamentos sobre a reportagem fica em aberto.