Quando Jair Bolsonaro falou na live que "o mundo não acaba em 1º de janeiro", seus apoiadores acampados em frente ao QG do Exército, em Brasília, interpretaram que não haverá intervenção —e Lula será empossado no domingo (1º). A afirmação foi encarada como um endosso da decisão de jogar a toalha.
Todos estavam cabisbaixos. As pessoas amontoadas ao redor das caixas de som balançaram a cabeça ou blasfemaram. Alguns saíram de perto e desistiram de continuar ouvindo.
Os mais decepcionados choraram e houve quem ajoelhasse. O clima era um misto de decepção e apatia. Também teve quem defendeu que ele não entregou os pontos —mas esse grupo foi minoria.
O acampamento da sede do Exército fica numa praça em frente ao quartel-general. Há uma escada apelidada de arquibancada pelos manifestantes. Ali o público crescia conforme as rodinhas em volta das caixas de som diminuíam.
Uma mulher sentou desolada e abaixou a cabeça para que a aba do boné escondesse o choro.
Ao final do pronunciamento, silêncio. Apenas uma mulher falou ao microfone que a causa golpista "não está perdida" e que "era lógico que Bolsonaro não anunciaria um plano de intervenção".
Para ela, Bolsonaro combinou com as Forças Armadas e fez um discurso para não ser acusado de nada quando o "levante militar" acontecer. Ela notou que a narrativa não causou impacto e convidou todos pra rezar um Pai-Nosso, mas a oração puxada por ela também não empolgou.
Um homem tentou puxar o coro de "eu não vou embora". Não houve adesão.
Algumas dezenas deixaram o acampamento. Moradores de Brasília fecharam a cadeira de praia e tomaram o rumo de casa.
Enquanto apoiadores abandonavam o QG, motociclistas da PM passaram buzinando e o hino nacional tocou. Mas cinco minutos depois, a apatia voltou ao acampamento.