O presidente Jair Bolsonaro tem atribuído a "uma armação" do governador Wilson Witzel (PSC), o cerco do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) às movimentações suspeitas de recursos de seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido), quando deputado estadual.
Mas não é só com Witzel que o presidente anda irritado. Bolsonaro disse a assessores mais próximos que seu ministro da Justiça, Sergio Moro, "anda muito esquisito".
Para ele, ou o ex-juiz perdeu o controle da Polícia Federal, ou está "fazendo corpo mole".
O presidente está absolutamente irritado com as operações de busca e apreensão realizadas pelo MP-RJ nesta quarta-feira, 18, em endereços ligados à sua ex-mulher Ana Cristina Siquera Valle, o filho Flávio, o assessor e ex-policial Fabrício Queiroz e outros parentes e assessores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
Como é inevitável nesses casos, a Polícia Federal costuma ter informações sobre esse tipo de operação. E o presidente não tem visto em Moro uma "atitude mais firme" sobre os policiais e delegados a ele subordinados.
Em outras palavras, Bolsonaro gostaria que a Polícia Federal, chefiada por Moro, atuasse de "maneira mais pró-ativa" para neutralizar a o Ministério Público do Rio.
Bolsonaro já havia forçado o ministro a afastar o superintendente da Polícia Federal no estado, na expectativa de manter a corporação local sob maior controle. Mas isso, na opinião do presidente, não parece estar dando certo.
As desconfianças sobre Moro e Witzel têm em comum um mesmo pano de fundo: as eleições presidenciais de 2022.
Witzel já se declarou interessado em concorrer. E, desde então, passou a ser tratado como um adversário pelo presidente.
Moro, embora não tenha afirmado explicitamente o desejo de participar da disputa eleitoral, tem-se movimentado como pré-candidato.
Com um agravante no caso do ministro: sua popularidade está maior do que a do presidente da República, segundo as pesquisas eleitorais.
No Planalto dá-se como certa uma futura filiação de Moro ao Podemos, partido do senador Álvaro Dias (PR), com quem o ex-juiz tem grande afinidade.
Mas agora, segundo auxiliares de Bolsonaro, não é hora de passar recibo. É preciso engolir em seco e cozinhar em banho-maria as desconfianças em relação ao subordinado.
Primeiro, porque o presidente não tem certeza da participação de Moro no que chama de "armação", como tem em relação ao governador do Rio de Janeiro.
Depois, porque o rompimento neste momento poderia causar uma crise política. Desta vez com boa parte do eleitorado bolsonarista se posicionando ao lado de Moro.
Mas como se diz na caserna: o preço da lealdade é a eterna vigilância. Daqui para a frente o ministro será mantido sob monitoramento constante.