O governo do Acre pretende investir ainda mais no agronegócio nos próximos quatro anos. E um dos produtos agrícolas que tem revelado um enorme potencial para fomentar o setor é o tabaco.
Prova disso é que os mais importantes especialistas no Brasil têm se surpreendido com a qualidade do charuto Grand Amazônia. O produto, elaborado com tabaco produzido no Alto Juruá, chamou a atenção de fabricantes e aficionados que participaram do Festival Origens, em Cachoeira (BA), no Recôncavo Baiano.
O evento, produzido pelo Sinditabaco, acontece justamente na região de maior tradição na produção de tabaco para charutos do Brasil. Durante quatro dias, fabricantes, aficionados, plantadores e distribuidores se reuniram para debater as novidades e os rumos para o setor tabacalero.
O Festival Origens aconteceu na antiga estação ferroviária de Cachoeira, às margens do Rio Paraguaçu. Os participantes visitaram fábricas e lavouras de tabaco, além de exibirem marcas de charutos produzidos em diversos pontos do Brasil. Entre eles estava o Grand Amazônia, confeccionado manualmente e com forte aroma e sabor do tabaco acreano.
Agricultura sustentável e renda familiar
A empresária Andreia Tanja, que iniciou o negócio há dois anos, morou durante muito tempo em Cruzeiro do Sul, onde teve contato com o tabaco de Marechal Thaumaturgo.
As famílias que plantam tabaco no Alto Juruá podem conseguir uma renda extra anual de R$ 50 mil. Foto: cedida
“Intuitivamente, pensei que esse tabaco poderia ser um diferencial para os apreciadores de charuto. Iniciei os testes em 2019 com especialistas do setor, que aprovaram a qualidade do tabaco do Juruá. Fizemos um blend (mistura) com o toque especial desse tabaco produzido na floresta e o resultado foi fantástico. Assim, colocamos no mercado o Grand Amazônia, em 2020”, disse ela.
Uma das motivações da empresária para investir nesse charuto é o aspecto sustentável da produção de tabaco no Alto Juruá. As plantações são no formato de agricultura familiar e acontecem em áreas degradadas ou paralelamente em rodízio com as culturas do feijão e do milho, sem nenhum tipo de desmatamento.
“Existem 50 famílias de plantadores de tabaco no Alto Juruá. Eu tenho comprado a produção total de 20 famílias. Mas a minha intenção é, com o sucesso do Grand Amazônia, conseguir comprar toda a produtividade de tabaco do município, mesmo porque a minha atividade permite que eu possa pagar quase o dobro do valor que os produtores recebiam pela venda do tabaco,” afirmou Andreia.
As famílias que plantam tabaco no Alto Juruá podem conseguir uma renda extra anual de R$ 50 mil. Isso com uma agricultura ainda incipiente. Mas com a divulgação do produto em outros estados e países, a tendência é que haja um aumento da produção e, consequentemente, da renda familiar na região.
Geração de empregos
Toda a produção de charutos de qualidade é feita manualmente. Foto: cedida
O agrônomo Genádio Borges Fernandes, que mora em Cruz das Almas (BA), no Recôncavo, se dedica há mais de 30 anos à produção tabacalera e confecção de charutos. Ele tem sido o responsável pela fermentação do tabaco acreano para o Grand Amazônia.
“Vejo um potencial enorme no tabaco do Acre. Se o governo do Estado investir num centro de processamento e fermentação poderá gerar empregos para muita gente. O maior investimento seria a contratação temporária de um técnico do setor para formar profissionais na região. Isso também vai agregar valor ao produto”, garante Genádio.
O cubano Diógenes Puentes, que tem uma badalada fábrica de charutos em Araraquara (SP), está fazendo parceria com o Grand Amazônia. Com a experiência de quem trabalhou em Cuba nas maiores produtoras de charuto, ele acredita no potencial do tabaco do Acre.
“É um produto diferenciado e os aficionados de charuto adoram novidades. Inclusive, acredito que esse tabaco pode encontrar um mercado ainda mais promissor no exterior. Já conseguimos resultados positivos com o Grand Amazônia, que está tendo uma venda surpreendente,” avaliou Puentes, que pretende visitar, em breve, o Alto Juruá para trocar informações com os produtores.
Markus Dietrich, diretor presidente da Fumex Tabacalera, uma multinacional de processamento com origem no Tennessee, nos Estados Unidos, está atento com os testes feitos com o tabaco do Acre. A empresa, que funciona em Cruz das Almas (BA), gera mais de mil empregos diretos a cada ciclo do tabaco, que leva um ano e meio.
O secretário de Produção e Agronegócio (Sepa), Edivan Azevedo, acredita na rentabilidade do tabaco como mais um importante produto para o estado.
“Temos que fazer intercâmbio dos nossos agricultores com os produtores do Recôncavo Baiano para aperfeiçoar as nossas lavouras de tabaco. Também vamos avaliar os investimentos necessários para o processamento do tabaco em Marechal Thaumaturgo. A determinação do governador Gladson Cameli é gerar empregos e oportunidades para os acreanos e essa é mais uma possibilidade,” finalizou o secretário.
Nota: Toda a produção de charutos de qualidade é feita manualmente. O tabaco utilizado não recebe nenhum tipo de tratamento químico. Isso garante um produto orgânico, que conserva as características do uso original do tabaco através dos milênios.