Anunciado na última sexta-feira, 9, como a medida mais emergencial para enfrentar a crise ambiental e de saúde provocadas pelo elevado número de queimadas no Acre, o decreto de alerta ambiental ainda não foi publicado no Diário Oficial, sinalizando que o documento ainda não recebeu a canetada do governador Gladson Cameli (PP).
Conforme anunciado pela equipe ambiental do governo que se reuniu na semana passada, o decreto seria publicado na edição de segunda, 12, do Diário Oficial. Até esta quarta, 14, contudo, não houve a publicação. Conforme a reportagem apurou, o documento já foi assinado e avalizado pela equipe técnica da Secretaria de Meio Ambiente, faltando apenas o aval de Cameli.
A situação ambiental do Acre é considerada crítica por conta do elevado número de foco de queimada registrado nestes primeiros dias de agosto. Com o fogo, há a consequente emissão de fumaça que afeta a saúde de milhares de acreanos, sobretudo de crianças e idosos. Hospitais e unidades básicas de saúde estão com elevado número de pessoas com problemas respiratórios.
Ao todo, nos 10 primeiros dias de agosto, 5.190 focos de incêndio foram registrados no Acre pelos satélites do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os dados levam em conta as imagens coletadas por todos os satélites usados pelo Inpe.
Este número, portanto, pode ser superestimado, pois um mesmo foco é contabilizado por diferentes satélites, indo para a somatória final. Levando-se em conta apenas os números do chamado satélite de referência (que tem as informações mais precisas), foram registrados 1.556 focos até a última segunda (12).
Apenas estas duas semanas incompletas de agosto representam 90% do total de queimadas registradas ao logo do ano no Acre. O aumento ocorre em dois momentos estratégicos: o tempo seco provocado pela escassez de chuvas, e as declarações do governador Gladson Cameli condenando os trabalhos de fiscalização do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).
“Quem for da zona rural, e que o seu Imac estiver multando, alguém me avise porque eu não vou permitir que venham prejudicar quem quer trabalhar. Avise-me e não pague nenhuma multa porque quem está mandando agora sou eu. Não paguem”, disse Gladson durante ato político em Sena Madureira no primeiro semestre deste ano. A fala veio a público nos últimos dias, ganhando manchete nacional.
Os dados oficiais do governo sinalizam que as declarações de Cameli serviram como um combustível para o boom das queimadas. As propriedades privadas e os projetos de assentamento lideram o ranking de queimadas em agosto; 289 e 226 focos, respectivamente. Estas são as áreas mais problemáticas para a incidência de foco, e cujos moradores foram motivados pelo governador a fazer desdém do Imac.
As terras indígenas são as que apresentam o menor número.: 59 focos.