A situação nas terras indígenas do Vale do Juruá tem se agravado com as mudanças climáticas. É o que mostra um relatório feito pela Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (OPIRJ), apresentado às autoridades durante a oficina “Oficina de adaptação e enfrentamento às Mudanças Climáticas, realizada nos dias 26 e 27 de julho deste ano.
De acordo com o documento, que o Notícias da Hora teve acesso, povos das Terras Indı́genas Kampa do Rio Amônia (Povo Ashaninka), Arara do Igarapé Humaitá (Povo Shawadawa), Puyanawa (Povo Puyanawa), Ashaninka e Kaxinawá do Breu (Povos Ashaninka e Huni Kuin), Arara do Rio Amônia (Povo Apolima Arara), Katukina do Rio Campinas (Povo Noke Koi), Rio Gregório (Povos Yawanawa e Noke Koi), Nawa (Povo Nawa), Jaminawa do Igarapé Preto (Povo Jaminawa), Kuntanawa (Povo Kuntanawa), Jaminawa do Bagé (Povo Jaminawa), Nukini (Povo Nukini) e Kaxinawa do Rio Jordão (Povo Huni Kuin) vem sofrendo com o desmatamento no entorno de suas terras.
Eles denunciam que foram identificados focos de desmatamento e queimadas, “mas não há um acompanhamento dos órgãos competentes para orientar e impedir essa situação”. As ações ilegais ocorrem principalmente em unidades de conservação e em assentamentos rurais, afirmam os membros da OPIRJ.
“Todos os nossos rios estão alterados: no tempo de inverno, as cheias invadem nossas casas, destroem os nossos roçados e levam nossos animais de criação. No tempo de seca, os rios, igarapés, lagos e igapós diminuem, ficam secos e quentes durante muito mais tempo. 2) Nossa soberania alimentar está ameaçada. Essa transformação nas águas impactou os ciclos da piracema, já extinguiu peixes e quelônios e diminuiu as fontes de água potável. Animais aparecem mortos na floresta, as caças estão diminuindo”, diz trecho do relatório, que acrescenta, na sequência.
“Nossos roçados estão alterados. Há pragas nas roças. Nossas plantas e frutas não se desenvolvem como antes. Notamos isso nos plantios do milho, macaxeira, açaí, buriti, sapucaia, melancia, amendoim, feijão. A seca extrema está ocasionando a perda de sementes importantes da nossa tradição alimentar. O sol quente demais afeta nosso dia a dia, o nosso bem-estar e trabalhos. O calor extremo mudou toda a rotina de vida: os horários de trabalho no roçado, a qualidade do sono, aumenta a fadiga no corpo e afeta o repasse de conhecimento para as crianças, que deixam de acompanhar os parentes nas atividades cotidianas (pescaria, roçado, caça, coletas de frutos). A nossa saúde está fragilizada: há o aumento de mosquitos que transmitem doenças, de novas viroses e doenças respiratórias devido ao ressecamento do ar e a quantidade de fumaça das queimadas”.
Estiveram presentes à Oficina os seguintes órgãos: A Secretaria Extraordinária de Povos Indı́genas do Estado do Acre (SEPI); Pesquisadores da Universidade Federal do Acre (UFAC) e Instituto Federal do Acre (IFAC), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), Instituto de Mudanças Climáticas do Acre (IMC), a Coordenação Regional da FUNAI (CR-JURUAƵ), Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), Distrito Sanitário Especial Indı́gena (DSEI-Juruá).