As constantes e frequentes quedas de braço que caracterizam o governo Gladson Cameli (PP) desde 1º janeiro teve como sua nova vítima, essa semana, a secretaria apontada como a mais estratégica para tirar o Acre do atual marasmo econômico: a de Produção e Agronegócio (Sepa). Todas os órgãos que cuidavam do setor rural do estado até o fim do ano foram incorporados à Sepa, ganhando o status de super-secretaria.
Após resistir por alguns meses, o engenheiro agrônomo Paulo Wadt não resistiu às pressões exercidas pelo clã Rocha, que domina o setor da agricultura do governo Cameli. Os irmãos tucanos Major Rocha, vice-governador, e Mara Rocha, deputada federal, não toleravam mais a presença de Wadt na Sepa, a quem tinham indicado no final do ano passado.
Mara Rocha chegou a pedir de público a cabeça de Paulo Wadt, lançando contra ele uma série de denúncias. Entre elas estaria a de venda de lotes de terra por parte do secretário a proprietários rurais de Rondônia. As denúncias levaram a Assembleia Legislativa a convocar Wadt para prestar esclarecimentos; ele negou todas as acusações.
Enquanto tinha a cabeça colocada a prêmio, Wadt contou com o apoio do governador Gladson Cameli, que decidiu mantê-lo na função, mesmo com o rompimento da deputada federal campeã de votos em 2018.
Com pós-doutorado em agronomia, Paulo Wadt era visto como o nome mais qualificado no primeiro escalão de Cameli, além de ter uma ampla experiência no meio rural do Acre e de Rondônia. Ele foi “importado” do estado vizinho pelo clã Rocha, mas logo criando vida própria (força política), passando a não mais atender aos interesses do tucanato.
Wadt era tido como o melhor nome pelo governador para seu projeto de “rondonização” do Acre, ou seja, transformar o estado numa grande potência do agronegócio, atraindo para cá produtores de soja e outras monoculturas. Por ter morado em Rondônia, era visto como o homem capaz de abrir portas entre os agropecuaristas de lá.
Com prestígio diante do Palácio Rio Branco, passou a ser visto como um dos secretários mais fortes da gestão progressista - o que, mais uma vez, causou insatisfação na dupla tucana. Diante disso, até o setor rural do estado passou a reclamar do secretário para o governador, também pedindo sua saída.
Necessitando acalmar os ânimos dos tucanos ávidos por poder - mais a pressão do próprio agronegócio - Gladson Cameli não teve mais como sustentar Paulo Wadt na Sepa. A demissão ocorreu na mesma semana em que Cameli e Mara Rocha voltaram a trocar abraços e beijinhos.
Em seu lugar assume o médico-veterinário Edivan Azevedo, funcionário de carreira do estado. Ele foi indicado pelo PSDB em conjunto com os caciques da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (Faeac)
A cerimônia de posse do novo secretário, ocorrida nesta quinta, 14, teve a presença de Major Rocha e do presidente da Faeac, Assuero Veronez. O próprio substituto de Paulo Wadt é um dos dirigentes da entidade ruralista.
Em meio a este cabo-de-guerra, o governo Cameli teve praticamente seu primeiro ano de governo no setor rural perdido. Todos os projetos (os raros) desenvolvidos ao longo de 2019 foram heranças da gestão passada. Nenhuma grande novidade aconteceu para o setor. As plantações de soja, por exemplo, foram iniciadas e fomentadas ainda durante o governo de Tião Viana (PT).