Após crítica de Lula à 'estabilidade fiscal', Ibovespa fechou em queda de mais de 3,7%; dólar subiu 4,08% e passou a ser cotado a R$ 5,40
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas à volatilidade do mercado financeiro do Brasil, após discursar em uma visita ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília, onde ocorrem os trabalhos de transição de governo, nesta quinta-feira, 10.
"O mercado fica nervoso à toa. Eu nunca vi um mercado tão sensível como o nosso. É engraçado que o mercado não ficou nervoso com quatro anos do Bolsonaro", disse aos jornalistas após o evento.
O mercado financeiro passou o dia instável. Mais cedo, o presidente eleito fez críticas à "estabilidade fiscal", ao defender que é preciso colocar a questão social na frente de temas que interessam, segundo ele, apenas ao mercado financeiro. O petista também questionou por que ter meta de inflação e não ter meta para o crescimento do PIB.
Como mostrou o Estadão, ganhou força na equipe de transição a opção de retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de forma permanente, o que desagradou o mercado. Para o setor financeiro, a saída que vem sendo negociada pela equipe de transição, que também teria de ser feita via Proposta de Emenda à Constituição (PEC), pode deteriorar a trajetória de sustentabilidade da dívida pública.
Dólar dispara, e Bolsa cai
Os investidores reagiram automaticamente ao discurso desta quinta-feira. Após a fala de Lula, o Ibovespa fechou o dia com uma queda de mais de 3,7%, na casa dos 109.350 pontos, patamar que não atingia desde 30 de setembro, antes do primeiro turno das eleições presidenciais.
Já dólar subiu 4,08% e passou a ser cotado a R$ 5,40 no mercado à vista. Entre as empresas estatais negociadas na bolsa brasileira, as ações da Petrobras recuaram 1,4% (PETR3) e 3,5% (PETR4). A do Banco do Brasil (BBAS3), que abriu a sessão em alta, perdeu 2,24%.
O presidente eleito lembrou que, durante seus dois mandatos, entre 2003 e 2010, o Brasil respeitou as metas fiscais, os índices de inflação e deixou o País com superávit, em vez de dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Lula reafirmou, como fez na campanha eleitoral, que o País tem que retomar a credibilidade, a estabilidade e a previsibilidade. "A sociedade não pode ser pega de surpresa", disse o petista.
Mantega na equipe de transição
O mercado também não reagiu bem ao anúncio feito nesta quinta-feira pelo vice-presidente eleito e coordenador da transição de governo, Geraldo Alckmin, sobre a presença do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega no grupo Planejamento, Orçamento e Gestão na transição do governo.
Mantega chefiou o ministério da Fazenda durante governos anteriores do PT e não tem credibilidade aos olhos de boa parte dos mercados financeiros, principalmente depois de sua atuação na gestão da ex-presidente Dilma Roussef.
Ao lado de Mantega neste grupo temático, estarão também o deputado federal Enio Verri (PT-PR), a economista e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Esther Duek e o presidente do Conselho Federal de Economia, Antonio Corrêa de Lacerda.
* Com informações de Estadão Conteúdo e Reuters