A penúltima sessão ordinária da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) antes do recesso parlamentar do meio do ano teve suas atenções centradas muito mais para a sala de comissões do que para o plenário.
O motivo foi a ida do secretário Paulo Wadt (Agronegócio) para prestar esclarecimentos sobre as denúncias feitas pela deputada federal Mara Rocha (PSDB), de que ele estaria praticando malversações à frente da secretaria que comanda.
O caso representa a mais recente crise política dentro do Palácio Rio Branco, com os tucanos sendo acusados de se articular para enfraquecer o governador Gladson Cameli (PP), dando poder de fogo ao vice, Major Rocha (PSDB), irmão da deputada denunciante.
Para que tudo fosse explicado às claras, a Aleac aprovou requerimento do deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) a fim de que Paulo Wadt fosse até a comissão que preside, a de Serviços Públicos, para responder às perguntas dos parlamentares.
A sala de comissões ficou pequena para acomodar deputados, jornalistas e um grupo de produtores rurais que queriam explicações sobre o atraso no pagamento de subsídios. Houve a participação de servidores da Emater, que diziam estar lá para representar e defender a deputada federal tucana.
Dos funcionários, ouviu queixas de que não se mostrava favorável a fortalecer a categoria, e que defendia até a extinção da Emater. De acordo com ele, a deputada Mara Rocha foi quem intercedeu em favor da manutenção da empresa.
Apesar de Paulo Wadt ter ficado quase que num “paredão de fuzilamento”, o deputado Edvaldo Magalhães - que conduziu os trabalhos da comissão - procurou deixar o secretário à vontade e, como os demais oposicionistas, evitou fazer uma exploração política do caso para desgastar o governo.
Os governistas também seguiram o mesmo caminho. O que todos queriam saber era o motivo de o PSDB - legenda à qual é filiado e o indicou para o cargo - agora colocava sua cabeça a prêmio, pedindo de forma pública sua demissão. Sem entrar em muitos detalhes, Wadt preferiu tratar a situação como “uma imaturidade do partido”.
O secretário afirmou ter recebido o apoio do governador Gladson Cameli e do senador Sérgio Petecão (PSD) para permanecer na cadeira, tão logo as denúncias tornaram-se públicas por meio da imprensa.
Segundo ele, uma eventual demissão por parte do chefe do Executivo está condicionada a sua gestão não apresentar resultados à frente da Secretaria de Agronegócio, vista como o carro-chefe da política de desenvolvimento do governo do PP.
O primeiro a fazer as perguntas foi Edvaldo Magalhães. O parlamentar queria que Wadt esclarecesse a denúncia de que uma pessoa sócia da empresa que ele também aparece como sócio foi nomeada para a secretaria. Wadt afirmou que, apesar de a empresa existir formalmente, já há alguns anos não está ativa.
O deputado, todavia, ressaltou que essa mesma servidora também aparece como sócia de outra empresa que mantém contratos com a Prefeitura de Plácido de Castro. O Estatuto dos Servidores proíbe que funcionários estaduais sejam gerentes ou administradores de empresas privadas.
De acordo com ele, a nomeação de Sêmila Alves aconteceu a seu pedido, com ela fazendo parte da cota do senador Sérgio Petecão. Ela foi agraciada com uma CEC-3.
Dossiê tucano
Paulo Wadt negou as denúncias de que praticaria ameaças e perseguições aos funcionários da secretaria, como acusou Mara Rocha. A tucana ainda disse que Wadt estaria pressionando produtores rurais do Acre para vender suas propriedades a investidores de Rondônia, além de atuar como um “corretor de imóveis” nessa intermediação entre possíveis compradores e vendedores de terras.
Wadt negou que faça uma caça às bruxas dentro da pasta, e que sua atitude é de cobrar resultados dos funcionários, além de cortar o ponto daqueles que faltam sem apresentar justificativa. “O que houve foi o inverso. Já soube de pessoas que foram para reunião comigo e que estavam gravando a conversa”, disse.
“O que temos feito são cobranças [de resultados], e elas serão cada vez mais fortes.”
Quanto a uma possível de intimidação dos produtores rurais, o secretário afirmou que lhes foi apresentado apenas a opção de arrendamento de suas terras como forma de incrementar os negócios. De acordo com ele, arrendar, e não comprar propriedades, tem sido o modelo mais comum nos grandes estados produtores do país.
“Isso tudo foi feito de forma transparente. Fizemos três ou quatro reuniões para produtores de Rondônia investirem no Acre. Em nenhum momento nós ditamos que a coisa deve ser feita de uma forma ou de outra. A maturidade do produtor vai definir qual o melhor negócio para ele”, afirmou.
Calote nos seringueiros
Outro ponto bastante discutido foi o não pagamento, desde janeiro deste ano, dos subsídios aos produtores de borracha no estado. Um grupo de extrativistas de seringueiras de cultivo e nativas afirmou estar passando por dificuldades com a decisão do governo Gladson de não mais pagar o subvenção.
Até o momento, a dívida estaria em R$ 260 mil. Segundo Paulo Wadt, este atraso ocorre por uma decisão da Casa Civil de rever todos os pagamentos feitos pelo governo, com os contratos firmados ainda na gestão anterior tendo que passar por uma análise da Controladoria Geral do Estado (CGE).
Este excesso de burocracia, contudo, tem colocado na lona um setor da economia acreana que já há algum tempo enfrenta sérias dificuldades, que é o extrativismo. Ficou definido que na próxima sexta, Wadt e os deputados Edvaldo Magalhães e o líder do governo, Luiz Tchê (PDT), vão participar de reunião com o chefe da CGE, Rui Oscar de Souza.