Desde o começo de fevereiro, quando foram iniciados os trabalhos da nova legislatura da Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), o governo Gladson Cameli (Progressistas) tem demonstrado completa falta de habilidade política para sua relação com o Parlamento. Apesar de, numericamente, ter ampla maioria, o Palácio Rio Branco sofre com uma articulação amadora, incapaz de transformar essa vantagem em resultados concretos.
O maior exemplo foi a derrota - com o apoio dos próprios aliados - na votação para indicar a presidência da Agência Reguladora de Serviços Públicos do Acre (Ageac). O fiasco levou Gladson Cameli a ir pessoalmente até a Aleac para conversar com todos os deputados - incluindo os da oposição.
Quando tudo parecia contornado e que o governo tinha assumido as rédeas de sua relação com a base, eis que essa semana mais um exemplo de amadorismo foi dado. Justamente quando os oposicionistas se articulavam para criar a tão temida (pelo governo) CPI da Energia, Gladson Cameli perdeu, ganhou e voltou a perder seu líder dentro da Aleac.
A confusão foi tamanha que ninguém mais sabia quem era o porta-voz do Palácio Rio Branco. Oficialmente, o cargo ainda pertence a Gerlen Diniz (Progressistas), um líder que mesmo antes do começo da legislatura se envolveu em polêmicas. Uma delas foi a confusão com o prefeito de Sena Madureira, Mazinho Serafim (MDB), levando o emedebista a declarar guerra ao governo.
Na relação com os deputados, Diniz tem dificuldades de manter a base coesa, tendo mais desentendimentos com os aliados do que os opositores. O comportamento já provocou especulações de sua substituição na função de líder. A gota d’água foi essa semana.
Setores da imprensa chegaram a anunciar que o pedetista Luiz Tchê seria o novo “embaixador” de Gladson na Casa. A informação chegou a ganhar força diante da ausência de Gerlen Diniz nas sessões mais duras e de teste de fogo para o governo, que é enviar para a gaveta pedidos de CPIs que não sejam de seu agrado.
Causou estranheza o governo ficar sem um interlocutor oficial num dos momentos mais críticos, quando a oposição, mesmo sendo minoria, também poderia manobrar para, a partir do regimento, recorrer a mecanismos legislativos que complicariam ainda mais a vida de Gladson Cameli. Na sessão de quarta, por exemplo, a tribuna foi dominada apenas por discursos duros contra o governo - não tendo ninguém para contra-atacar.
Luiz Tchê assumiu as vezes de líder do governador no sumiço de Diniz e do vice-líder, Neném Almeida (SD). Tchê foi auxiliado pelo veterano José Bestene (Progressistas), que ameaçou retaliar os oposicionistas com as CPIs para investigar atos dos governos petistas.
Na terça e na quarta, Tchê negou que seria o líder. “Isso é coisa da imprensa. O líder é o Gerlen”, afirmava. O fato é que, nos bastidores, o governo não está muito satisfeito com a atuação de seu representante dentro do Parlamento. Ventilar o nome do pedetista seria a forma de sondar como a bancada reagiria.
Deputado com maior traquejo político, Tchê tem mais capacidade de desarmar bombas e diminuir a resistência entre os adversários mais ferrenhos. Tem boa relação até mesmo com os opositores.
Enquanto o governo fica testando nomes para saber qual o melhor para assumir o comando da base dentro da Aleac, os inimigos vão tirando proveito e conseguindo avançar no front, mesmo com as poucas munições de que dispõem diante de um exército disperso e sem seu general.