Gaúcho que há quase 40 anos reside no Acre se mobiliza para ajudar e resume cenário de destruição: “parecia um dilúvio”
A relação do Acre com o Rio Grande do Sul é registrada há 122 anos com o início da Revolução Acreana, com as tropas lideradas pelo gaúcho de São Gabriel, José Plácido de Castro. Mas, esta ligação entre os dois estados não para por aí. Se no Acre teve-se a Revolução Acreana, nas terras dos pampas ocoreu a Revolução Farroupilha.
O Acre, em especial a capital Rio Branco, também esteve nos versos do cantador do Rio Grande, o Teixeirinha, que compôs a canção ‘Adeus, Rio Branco’. Agricultores, trabalhadores anônimos, caminhoneiros, advogados, juízes, desembargadores, como é o caso do desembargador aposentado Pedro Ranzi, do Tribunal de Justiça do Acre (TJAC), se somam ao nosso estado na formação do povo acreano.
Diante da tragédia que se abateu em cidades do Rio Grande do Sul, o secretário de Estado de Agricultura, José Luís Tchê, que há quase quarenta anos reside no Acre, disse que o momento, agora, é de solidariedade e união. Ele lidera, juntamente, com outros parceiros, uma corrente do bem que visa fazer algo semelhante ao que foi feito nas enchentes do Acre, com a distribuição de refeições.
“Eu acho que a ficha vai cair para o gaúcho quando a água baixar mesmo. Aí o cara tem uma noção danada. Como choveu para aquela região de Lajeado, aquela região da Serra [Gaúcha], aquele negócio, aquilo tudo é meio alto e vem descendo para a bacia, que é Porto Alegre, que é uma planície. E aí, o Rio Guaíba foi enchendo. Tinha as comportas e tudo, mas passou da enchente de 1941. Essa daí foi a maior da história. O que se perdeu de agricultura, granja de porco, granja de frango, sabe... Animais, bois, cavalos. Foi tão rápido que ninguém nunca imaginava. Casas inteiras que se levaram, outras que foram soterradas. Parecia um dilúvio”, relatou ao Notícias da Hora.
Tchê ressalta ainda que o povo gaúcho é resiliente, que lutará para reconstruir o que foi destruído pela força da natureza, provocada pelas mudanças climáticas.
“O povo gaúcho é um povo de origem alemã, italiana. Eles se reconstroem rápido. Pode olhar para a Alemanha, eles passaram por guerras e foram reconstruindo. O povo gaúcho é muito parecido com o povo acreano, na minha avaliação, porque são dois estados que vieram através de revolução. São muito guerreiros. Com certeza, vão reconstruir o estado. Agora, lógico que tem cidades por exemplo, que os caras estão pensando em mudar de lugar”, ponderou.
Sem fechar os olhos para o que vem ocorrendo com o clima do planeta, Tchê afirmou que não é de hoje que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, vem apontando para a necessidade de se discutir o clima e adotar medidas que minimizem esses eventos.
“O que acontece... primeiro essa questão das climáticas. A gente achava que a Marina estava falando, vamos dizer assim: estava jogando para a plateia. Então, hoje, a gente sabe que aqui no Acre em menos de 1 ano, em 11 meses, deu outra alagação. No Rio Grande do Sul, em menos de 8 meses, da que tinha dado no ano passado. Lógico, não na proporção que deu. Chover 400 milímetros, esperado para o mês todo, chove em dois, três dias”.
Solidariedade, a palavra necessária, convertida em atitude
A advogada Paola Daniel, uma das voluntárias e que ajuda a liderar a campanha de arrecadação de donativos para o Rio Grande do Sul, no Acre, contou ao Notícias da Hora que o resultado de uma reunião realizada nesta sexta-feira (10), com as presenças de representantes da Polícia Rodoviária Federal, Sest-Senat e Secretaria de Estado de Agricultura, será a realização de uma campanha solidária, que terá início imediato. A ideia é que a primeira carreta com mantimentos siga para as terras gaúchas já na segunda-feira, dia 13.
“Estamos iniciando essa campanha, hoje, no Acre e quem está compondo é a Polícia Rodoviária Federal (PRF), junto com o Sest-Senat do Acre, a Secretaria de Estado de Agricultura, a ONG União Solidária. A gente vai dar o start hoje dessa campanha de arrecadação de mantimentos. Roupas, calçados, água, alimentos, o que tiver, nós vamos estar mandando para o Rio Grande do Sul. Estaremos mandando por meio de carretas, que vão ser disponibilizadas em uma parceria com o Sest-Senat. A PRF vai acompanhar essas carretas até o Rio Grande do Sul. Então, agora, cabe a nós, aqui do Acre, ajudar com doações. Estaremos recebendo doações de roupas, de calçados, de ração animal. O que puder ser doado, vamos estar recebendo. A primeira carreta a gente pretende que sai já na segunda-feira. Quem quiser contribuir, quem quiser ajudar, será tudo muito bem-vindo. Eles estão precisando muito lá no Rio Grande do Sul”, explicou Paola Daniel.
Locais para recebimentos das doações
Life Arena
Endereço: Estrada Alberto Torres, 927 - Jardim Primavera, Rio Branco/AC
(Ao lado da universidade Unimeta)
Loja Gloss
Rua Amazonas, 466 - Aviário, Rio Branco/AC
Secretaria de Estado de Agricultura
Avenida Nações Unidas, 2.604 - 7• BEC, Rio Branco/AC
Farmácia Contém Vida
Estrada Dias Martins, 903 - Jardim Primavera, Rio Branco
PRF
Superintendência Regional PRF-AC: Av. Epaminondas Jacome, 3017 - Centro, Rio Branco/AC
UOP01 PRF-AC: BR 364 KM 115 - B. Santa Cecília, Rio Branco/AC
UOP02 PRF-AC: BR 317 - Xapuri/AC
Arroz que viria para o AC vai ajudar a alimentar 1,5 mil pessoas no RS
Com mais de 50 anos no mercado acreano, referência em panificação, a empresa Miragina doou meia tonelada de arroz para ajudar na confecção de 1.500 refeições diárias que são oferecidas a pessoas atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul. Todo esse trabalho, de preparo dos marmitex, é desenvolvido pela Fatbullbeer, que tem à frente, Tiago Bird. Além de preparar alimentos para os desabrigados, ele e os amigos cuidam de um abrigo para cães. São mais de 100 animais abrigados em um espaço que antes era o salão de um restaurante.
A Miragina confirmou a doação. “Isso, doamos ontem essa quantidade para um pessoal que está fazendo marmitas para os desabrigados. É fundamental que todos, tanto pessoas quanto empresários, se unam para ajudar em momentos de crise como este. A doação de alimentos é uma forma concreta de oferecer suporte às comunidades afetadas. A Miragina, com seus 57 anos de história, reconhece sua responsabilidade social e está comprometida em contribuir para o bem-estar das pessoas em momentos difíceis como este”, disse Paulo Felício, diretor comercial do Grupo Miragina.
De Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, Tiago Bird disse ao Notícias da Hora que as equipes estão empenhadas para garantir alimentação aos desabrigados, bem como socorrer também os animais que foram resgatados da enchente. “O nosso front é a alimentação. A gente está dando tudo que pode, com uma equipe incrível”, disse.
E acrescentou: "Essa tragédia no Rio Grande do Sul nos atingiu profundamente, afetando não apenas nossas vidas, mas também a economia local. Apesar dos desafios enfrentados, estamos empenhados em ajudar nossa comunidade. No momento, destacamos dois pontos: primeiro, a devastação que essa catástrofe causou em nossas vidas e negócios; e segundo, a importância vital das doações neste momento crítico para ajudar a reconstruir e apoiar aqueles que mais precisam. Estamos comprometidos em fazer a nossa parte, entregando milhares de marmitas diariamente e oferecendo abrigo para cães desabrigados. Juntos, podemos superar essa adversidade e reconstruir nossa comunidade.