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POLÍTICA

“A Frente Popular acabou”, diz presidente do PT em entrevista ao Notícias da Hora, que defende nova aliança

Odiado e folclorizado por seus oposicionistas, amado e admirado por correligionários. Esse é Cesário Campelo Braga (34), aquele a quem alguns consideram o último e mais autêntico militante do Partido dos Trabalhadores do Acre.

Filiado ao PT desde 2005, Cesário virou presidente da sigla no Acre no final de dezembro de 2018, cargo que só não passou a ocupar antes, em abril de 2017, por causa de um golpe contra ele orquestrado pelo ex-senador Jorge Viana que culminou na escolha de Daniel Zen, que posteriormente deixou a presidência para André Kamai.

Em dezembro do ano passado, dois meses após a eleição que quase varre o PT do mapa eleitoral, Cesário assume o controle do partido prometendo levar a legenda para onde ela jamais deveria ter saído: para o meio da classe trabalhadora, sindicatos e associações.

Na entrevista concedida ao Notícias da Hora, Cesário, apesar de presidente do partido que comandou o Acre durante 20 anos, revela ser o reflexo de um militante de rua, daquele que balança bandeira sob o sol quente e está disposto a viver pela causa que ele acredita: Justiça Social, como comunica a tatuagem em seu antebraço direito.

Cesário Braga é lúcido em suas avaliações. Sabe que o PT foi derrotado pela vontade popular e que precisa urgentemente ouvir as ruas, admitir erros e debater um formato de aliança política com “horizontalidade”, a participação direta das pessoas.

O presidente do PT afirma que não é o momento de criticar os governos Gladson Cameli e Bolsonaro.

Ele admite que “companheiros ficaram chateados” coma a reforma da prefeita Socorro Neri que exonerou de uma só vez uma quantidade numerosa de petistas de cargos importantes da prefeitura de Rio Branco.
Por outro lado, o presidente do PT não se antecipa sobre uma possível candidatura do partido à prefeitura de Rio Branco. Acha cedo.

Leia as principais declarações de Cesário Campelo Braga ao Notícias da Hora durante entrevista na sede do PT em Rio Branco:

A Frente Popular acabou

–A Frente Popular acabou. E quem decretou o fim da Frente Popular foi o povo nas urnas. Foi um projeto vitorioso, 20 anos aí, mas acabou, encerrou um ciclo e a gente vai ter que iniciar outro.

Vamos ver como a gente constrói uma coisa nova inclusive nessa nova dinâmica de sociedade. Uma frente fundada em outros princípios. Clareza de princípios e horizontalidade na relação. Acho que não cabe mais na sociedade moderna que tenha aquele que manda e quem obedeça. Temos que ter uma frente horizontal e com unidade na ação.

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“O povo queria mudança. Cometemos muitos erros”

20 anos... Muitos erros nós cometemos, o que acabou acumulando. E o povo queria mudança. Acho que é natural que o povo queira alternância do poder. Nós temos que aceitar a mudança, entender que o povo é soberano, entender isso, e nos perguntar onde foi que nós erramos nesse processo. Ouvir muito pra saber onde é que a gente errou, e se a gente quiser apresentar uma proposta nova temos que inclusive parar pra pensar qual é essa proposta nova.

A gente buscar o poder pelo poder não é o caminho. O que a gente ainda precisa fazer para mudar o Acre? Essa é uma pergunta que a gente ainda tem que fazer. E munido dessa pergunta a gente tem condições de dialogar e olhar para frente.

Onda conservadora foi decisiva

Teve uma onda conservadora que varreu o Brasil. Nós não podemos tirar isso. Nós que somos de um partido de esquerda, essa onda foi incisiva em cima do PT. Desde o mensalão até o hoje o PT tem sido massacrado nas mídias. E uma hora a derrota chega. Perdemos. O povo quis tirar o PT. Foi uma escolha do povo.

Nova frente com Jorge e Sebastião

Vai ter que ter a participação de todo mundo. O Jorge (Viana) deu uma contribuição fantástica pro Acre. O Tião deu uma contribuição fantástica pro Acre. São companheiros valorosos e que tem muita experiência e muita coisa pra ensinar. Termos que ouvir, juntar todo mundo e ouvir.

Acho que a discussão tem que vir de novo debaixo pra cima, do povo. Ouvir muito o povo. Quando nós ascendemos com Jorge, Lula, foi uma construção debaixo pra cima. Se não for desejo do povo não tem volta, não. É o povo que vai escolher.

Petistas chateados com Socorro Neri e aliança com a prefeita

Nós temos uma aliança com a prefeita Socorro Neri. Ela foi eleita na chapa do PT. Nossa base está alinhada com a prefeita. Nós tivemos uma conversa para que possamos ter um alinhamento. A reforma foi uma reforma importante, mas tirou alguns quadros do PT de lá. Isso deixou alguns companheiros chateados, mas é natural. E a gente está alinhando para que possamos estar de novo bem organizado. E não tem como dizer se a gente vai ter ou não candidato [a prefeito] em 2020. Nós ainda estamos fazendo um processo de avaliação interna.

É cedo para criticar Gladson e Bolsonaro

– É muito cedo para falar de governo, para falar de governo estadual e federal. Eles estão se organizando. É responsabilidade deles se organizar, fazer gestão.
O povo deu uma oportunidade ao Gladson e ao Bolsonaro e acho que eles tem que mostrar trabalho. A nossa responsabilidade é estar fazendo o que o povo induzir a gente a fazer. Se houver uma coisa errada sendo feita nós vamos nos posicionar sempre. Nós temos uma base parlamentar, inclusive, para fazer esse posicionamento, que é o deputado Daniel Zen e o deputado Jonas Lima.

Tem que dar tempo para o governador trabalhar. A responsabilidade de trabalhar é dele. A nossa foi nos dada a responsabilidade de fiscalizar com os parlamentares. E o PT vai ter que fomentar uma discussão interna, apresentar um modelo novo de sociedade, mas ouvindo o povo.

O Cesário militante e presidente

–Eu sou o mesmo cara, não mudei nada. Inclusive eu tenho algumas opiniões até mais radicais, mas eu assumi um papel aqui. O papel de presidir o PT não é falar a sua opinião. Você tem que expressar a opinião média da maioria do PT. O que eu penso eu trago para a reunião da direção e aqui nós vamos debater qual será a posição do PT. A posição do PT não necessariamente tem que ser a minha. Ela tem que ser a opinião média da maioria.

Eu por exemplo acho que o PT tem que passar, mais do que nunca, por um processo de condensamento ideológico. Ter uma postura mais de esquerda, pegar o PT e devolver literalmente para a classe trabalhadora.

Lula

O Lula é um companheiro fantástico que tem uma história imensa e que fez muito pelo Brasil. Acredito que o Lula está sendo injustiçado, é uma opinião minha. Eu acho que o Lula está sendo injustiçado.