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POLÍTICA

Ex-superintendente da PF do Rio contradiz Bolsonaro e confirma que filho dele era investigado

Ex-superintendente da PF do Rio contradiz Bolsonaro e confirma que filho dele era investigado

Delegado Carlos Henrique também afirmou que sua nomeação demorou porque presidente queria indicar outra pessoa para o cargo

BRASÍLIA - Em depoimento prestado nesta quarta-feira, o ex-superintendente da Polícia Federal do Rio Carlos Henrique Oliveira confirmou aos investigadores que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, era investigado em um inquérito em curso na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro. Disse, porém, que nunca recebeu cobranças do presidente a respeito de investigações em andamento.

A confirmação da existência desse inquérito contra o filho do presidente é um fato considerado relevante para os investigadores, porque pode ser a prova de um interesse concreto de Bolsonaro na PF do Rio de Janeiro, e contradiz o discurso que vinha sendo adotado pelo presidente. Ontem, após vir a público informações sobre o teor do vídeo da reunião ministerial em que vincularia trocas na PF à necessidade de proteger familiares, Bolsonaro havia afirmado em entrevista: "A Polícia Federal nunca investigou ninguém da minha família".

"Perguntado se tem conhecimento de investigações sobre familiares do presidente nos anos de 2019 e 2020 na SR/PF/RJ disse que tem conhecimento de uma investigação no âmbito eleitoral cujo inquérito já foi relatado, não tendo havido indiciamento", diz o depoimento. O GLOBO mostrou no último dia 1º que a PF pediu arquivamento do inquérito em março, sem nem solicitar as quebras de sigilo dos personagens envolvidos. O Ministério Público ainda não se manifestou sobre esse arquivamento. O inquérito eleitoral investigava se o senador Flávio Bolsonaro cometeu lavagem de dinheiro e falsidade ideológica eleitoral ao declarar seus bens nas eleições de 2014, 2016 e 2018.

Em seu depoimento, Carlos Henrique também afirmou que sua nomeação para o cargo de superintendente no Rio demorou de sair porque Bolsonaro queria nomear outra pessoa para o cargo. "Houve uma demora na nomeação do depoente para esse cargo pois na época houve uma manifestação pública do presidente Jair Bolsonaro, noticiada na imprensa, no sentido que ele, o presidente, desejava que outro delegado assumisse o cargo de superintendente no Rio de Janeiro", afirma.

Carlos Henrique prestou depoimento no inquérito que apura as supostas interferências de Bolsonaro na Polícia Federal. Ao pedir demissão, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que o presidente tentou demitir dois superintendentes da PF do Rio - um deles era Carlos Henrique - para nomear pessoa de sua confiança.

O delegado também afirmou que nunca recebeu cobranças por produtividade ou por relatórios de inteligência. Bolsonaro havia alegado baixa produtividade para demitir seu antecessor do cargo de superintendente, o delegado Ricardo Saadi.

Logo depois que Bolsonaro nomeou Rolando Alexandre de Souza como diretor-geral da PF, uma das suas primeiras medidas foi trocar o superintendente da PF no Rio. Para isso, Carlos Henrique foi promovido para o cargo de diretor-executivo da PF em Brasília, o número dois na hierarquia. Depois, o diretor-geral indicou outro nome para o cargo de superintendente, o delegado Tácio Muzzi.