Levantamento inédito permite compreender o papel dos recursos federais no estado e oferece subsídios para fortalecer políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação.
O financiamento da ciência acreana apresenta forte dependência de recursos federais, com participação ainda limitada da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Acre (FAPAC) no conjunto dos investimentos em pesquisa e inovação. Esse perfil aproxima o estado de outras unidades da Federação de menor capacidade fiscal, como Amapá, Roraima e Piauí, onde bolsas e programas federais sustentam grande parte da atividade científica. Ao mesmo tempo, o distancia de estados líderes como São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.
Esse retrato é apresentado pelo Painel do Financiamento das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs), um instrumento inédito que organiza e sistematiza, em um único ambiente de consulta pública, informações sobre o financiamento da ciência, tecnologia e inovação nos 26 estados e no Distrito Federal. O Painel foi desenvolvido pelo Centro de Estudos Sociedade, Universidade e Ciência (SoU_Ciência), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em parceria com o Conselho Nacional das FAPs (Confap). Acesse aqui o painel.
Elaborado ao longo de 2025, com base nos dados consolidados mais recentes, referentes ao ano de 2024, o Painel permite comparar como se articulam os esforços estaduais e federais no financiamento da pesquisa e da inovação e evidenciar assimetrias regionais no sistema científico brasileiro.
Protagonismo dos estados – No panorama nacional apresentado pelo Painel, as fundações estaduais assumem papel central. Em 2024, o orçamento conjunto das 27 FAPs alcançou R$ 4,8 bilhões (37,51%), valor superior, individualmente, aos R$ 3,46 bilhões das bolsas concedidas pela Capes (27,01%), aos R$ 2,3 bilhões dos aportes da Finep no apoio a instituições de pesquisa (17,99%) e aos R$ 2,24 bilhões do orçamento total do CNPq (17,49%).
“O Painel permite compreender com mais precisão como diferentes modelos de financiamento se combinam no país e onde estão as principais assimetrias e oportunidades de aprimoramento”, afirma Soraya Smaili, professora da Unifesp e coordenadora do SoU_Ciência. “Os dados oferecem subsídios técnicos para a formulação de políticas públicas de ciência, tecnologia e inovação, e contribuem para qualificar o debate ao tornar comparáveis, em escala nacional, dados antes dispersos”.
A partir desse enquadramento nacional, o Painel detalha a composição das fontes de financiamento da ciência em todos os estados. No caso do Acre, o total de recursos destinados à ciência somou em 2024 R$ 13,9 milhões. Desse montante, a FAPAC aportou R$ 780 mil (5,6%). Entre os recursos federais, a Capes, no que se refere a bolsas, respondeu por R$ 10,36 milhões (74,6%), o CNPq, por R$ 2,75 milhões (19,8%), e a Finep, no apoio a instituições de pesquisa, não registrou aportes no período analisado.
Baixa prioridade – Nos indicadores do financiamento estadual, o esforço fiscal — percentual da receita com impostos que o estado destina à sua fundação de amparo à pesquisa — é de 0,25% no Acre, o que posiciona o estado na 18ª colocação entre os 27 estados brasileiros. O valor é inferior à média nacional (0,39%) e indica baixa prioridade orçamentária ao financiamento estadual da ciência.
As maiores fatias da receita tributária destinadas à ciência estão no Rio de Janeiro (0,83%), São Paulo (0,78%) e Amazonas (0,71%). Na outra ponta, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe aplicam menos de 0,2% de seus impostos em pesquisa. No mesmo patamar do Acre estão Santa Catarina, Pará e Amapá.
O investimento per capita do estado em ciência é de R$ 8,82 por habitante, valor que coloca o Acre na 23ª posição nacional, em patamar semelhante a Rio Grande do Sul, Amapá e Rondônia. A média nacional é de aproximadamente R$ 21 por habitante, enquanto o maior valor é observado em São Paulo, com R$ 62 por habitante, seguido pelo Distrito Federal e pelo Espírito Santo.
Densidade de pesquisadores – Já o investimento por pesquisador tem valor médio nacional de R$ 12,2 mil. No Acre, são R$ 7 mil (21ª posição), valor próximo de Amapá, Pernambuco e Sergipe. Para efeito de comparação, os estados líderes nesse indicador são São Paulo (R$ 30,3 mil), Maranhão (R$ 26 mil) e Espírito Santo (R$ 25,8 mil).
No indicador de pesquisadores por 100 mil habitantes, o Acre registra 125 pesquisadores (23º lugar), ocupando posição na faixa inferior do ranking nacional, em patamar semelhante ao Piauí, Mato Grosso e Alagoas. A média brasileira é de 186 pesquisadores por 100 mil habitantes; os maiores índices são observados no Distrito Federal (459), Rio Grande do Sul (328) e Rio de Janeiro (315). Os índices mais baixos estão em Alagoas (123), Amapá (113), Rondônia (89) e Maranhão (69).
A coordenadora do Painel do Financiamento das FAPs, Maria Angélica Minhoto, destaque que “a transparência dos dados e o diálogo entre as instituições são essenciais para que a sociedade compreenda a importância do investimento em pesquisa. Ciência não é gasto — é desenvolvimento, inovação e soberania”, resume.
