Fã de carteirinha do estilo político e de governar do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), reproduz por aqui as mesmas declarações polêmicas e de fazer desdém da sua relação com o Parlamento do chefe do Planalto.
Desde que assumiu o Palácio Rio Branco no começo do ano, o progressista enfrenta sérias dificuldades para manter uma relação harmoniosa com o Parlamento – e, em certo momento, até com o Judiciário. Em junho, Gladson chegou a culpar os juízes pela crise de violência no estado por, segundo ele, soltarem os suspeitos que são presos pela polícia.
A declaração criou um mal-estar que obrigou sua equipe de Comunicação a atuar como bombeiro para apagar incêndio na relação com o Judiciário.
Em menos de seis meses. Gladson teve dois líderes na Aleac - e por muito pouco não trocou o atual, Luiz Tchê (PDT), queixoso da inabilidade política do Palácio Rio Branco. O Executivo tem dificuldades de manter uma boa interlocução com os deputados. Apesar de numericamente ter maioria na Casa, a base de sustentação não é coesa.
Pelos corredores, a bancada de oposição brinca ao afirmar não ter muito trabalho a fazer, já que os próprios aliados são os mais críticos e que apresentam as denúncias mais graves contra o governo.
Há pelo menos dois meses tudo parecia estar apaziguado, quando essa semana Gladson Cameli disparou sua metralhadora verbal desgovernada contra os deputados. A ofensiva se deu após críticas ao contrato do governo com empresa que fornecerá um jato particular para as viagens do governador.
Como retaliação, ele afirmou que não faria suplementação no Orçamento da Assembleia Legislativa, destinando o recurso para áreas como saúde e segurança. A declaração causou mal-estar, pois deu a entender que estaria usando o recurso como moeda de troca com o Parlamento.
A fala de Cameli foi vista como desrespeitosa para com o Parlamento. Ainda no primeiro trimestre, em meio a sua primeira derrota na Casa, o chefe do Executivo se reuniu no Plenário com todos os deputados e prometeu aumentar o valor das emendas de R$ 200 para R$ 500 mil, tendo destinação definida: saúde, educação e segurança.
A forma como Gladson Cameli se relaciona com o Legislativo chama a atenção pelo fato de o seu berço político ter sido, justamente, o Parlamento; foi por oito anos deputado federal e deixou pela metade o mandato de senador, em 2018, para assumir o governo.
Ao que tudo indica, não fez o dever de casa corretamente enquanto esteve no Congresso Nacional, e reflete essa má formação num plano mais local. Como os parlamentares vão reagir ao estilo Bolsonaro de Gladson Cameli, as próximas semanas vão definir.