Na semana que passou, ninguém melhor do que o governador do Acre, Gladson Cameli (PP), para se encaixar na definição de “metamorfose ambulante” - e este ambulante não é só pelas suas constantes viagens às custas do erário.
Gladson começou a segunda como o mandatário mais ecologicamente correto da história recente do Acre (amigo da floresta), e terminou a sexta comendo churrasco com os ruralistas de Rondônia, afirmando que as porteiras do Acre estão abertas para o agronegócio - o que inclui um pouco de desmatamento.
Tal mudança de comportamento - vista como antagônica já que ambientalismo e ruralismo quase sempre estão em lados opostos - tem uma explicação - e ainda bem.
Na segunda-feira 20 de maio, o governador abriu as portas do gabinete para receber alemães e britânicos que por aqui, nos últimos anos, aplicam seus recursos como tentativa de manter alguma coisa da Floresta Amazônica em pé.
São estes dólares, euros e libras esterlinas que vêm assegurando algum fôlego para os investimentos por parte do Executivo, ante um orçamento bastante comprometido com a inchada folha de pagamento do funcionalismo público.
A maior parte destes recursos é injetada pelo banco alemão estatal de desenvolvimento, o KFW. Seus dirigentes, membros da embaixada da Alemanha e da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) vieram ao Acre para ver como suas doações estão sendo aplicadas. Também integrou a comitiva internacional representantes do governo do Reino Unido.
Diante dos europeus, Gladson Cameli foi só amores com a causa ambiental, tão defenestrada por ele e seus aliados nos últimos anos, enquanto estiveram na oposição, acusando os petistas de travarem o desenvolvimento do Acre por conta da agenda ambiental.
“Nosso Governo não é a favor que se acabe com a floresta e não trabalhamos com essa possibilidade. Queremos usar o potencial que nós já temos para que possamos nos tornar um Estado produtivo, que gere emprego e renda para o nosso povo. A continuidade desta parceria vai ser fundamental para que possamos alcançar esse objetivo”, disse o anfitrião aos convidados.
Gladson Cameli, claro, está de olho nos quase R$ 2 bilhões que apenas o governo da Alemanha investirá nos próximos anos na preservação de florestas tropicais ao redor do mundo, com o Acre podendo comer uma fatia deste bolo. Para isso, o governo precisa fazer sua parte e combater o desmatamento ilegal.
Para cada árvore colocada no chão, o estado deixa de receber verba internacional - ou seja, menos floresta, menos dinheiro em caixa. Apenas nos últimos cinco anos o Acre recebeu R$ 115 milhões de doadores estrangeiros por ter mantido preservada 87% de sua cobertura florestal nativa.
A porteira está aberta
Porém, nem bem alemães e britânicos deixaram seu gabinete, e Gladson Cameli já estava de malas prontas para ir ao estado vizinho, onde participaria da Rondônia Rural Show. Sua intenção estava clara: reforçar o convite para os grandes produtores agropecuários aplicar seus investimentos no Acre. Desde o começo do ano ele tem ido a Rondônia buscar potenciais investidores rurais para o Acre.
Em termos ambientais, Rondônia é um dos estados da Amazônia Legal que mais perderam sua cobertura florestal para o agronegócio. Em questão de horas, Gladson esqueceu todo o seu lado ecologicamente correto e colocou o chapéu de vaqueiro para escancarar as porteiras do Acre para a soja e outras culturas.
“As pessoas quando falam de Amazônia, só falam de preservação. O Acre está aberto para o agronegócio, a pecuária, a soja, a industrialização. E quem quiser investir, pode ir com toda a segurança que o estado dará. A nossa ideia é seguirmos esse modelo de desenvolvimento, adotado por Rondônia, porque temos tudo para fortalecer nossa economia”, disse Cameli aos produtores rondonienses.
Por segurança, vale ressaltar, não é essa que a população carece diariamente, com a bandidagem “tocando o terror” pelas ruas das cidades acreanas. Mas a destes fazendeiros fazerem o que bem quiserem por aqui dentro de suas áreas, sem ser incomodados pela fiscalização ambiental.
Como se vê, a “metamorfose ambulante” retrata o quão voláteis são as declarações do governador do Acre - que ora acende uma vela para o Divino, e ora para o capeta. Ao que tudo indica, as suas palavras sobre a defesa da Floresta Amazônica não passaram de puro casuísmo para inglês e alemão verem e ouvirem.