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POLÍTICA

“Guru do PT no Acre”, Carioca revela bastidores de 20 anos na Frente Popular: “A gente fazia uma estratégia montada”

“Guru do PT no Acre”, Carioca revela bastidores de 20 anos na Frente Popular: “A gente fazia uma estratégia montada”

No podcast Papo Informal desta quinta-feira, 4, o professor universitário Francisco Nepomuceno — o Carioca, conhecido como “o guru” dos governos do PT no Acre — fez uma rara exposição sobre sua atuação nos 20 anos em que coordenou estratégias políticas da Frente Popular do Acre (FPA). A fala foi motivada por uma pergunta direta do jornalista Luciano Tavares, apresentador do programa.

Luciano destacou que, apesar de Carioca ter sido “o principal articulador político do grupo que comandou o Acre durante duas décadas”, ele quase nunca falou publicamente sobre essa experiência. “Eu mesmo como jornalista lidei algumas vezes com o apelido de mago da Frente Popular… o grande articulador. Mas eu queria ouvir do Carioca a sua experiência. Afinal, não são 20 dias nem 20 semanas, nem 20 meses — são 20 anos”, disse o comunicador.

Ao responder, Carioca mergulhou em uma explicação histórica e geopolítica sobre a formação do poder político no Acre. Para ele, mesmo com os atuais 22 municípios, o estado continua sendo moldado pelo que chamou de “os sete municípios de origem”: Rio Branco, Xapuri, Brasiléia, Sena Madureira, Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul.

“O mapa político do Acre ainda é aqueles sete municípios da origem”, afirmou. Segundo ele, é desses núcleos que historicamente saem os principais quadros políticos — tanto estaduais quanto federais. “Se você pegar a legislatura da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal, de onde vêm os parlamentares? Vêm desses municípios antigos”, explicou.

Carioca lembrou que há exceções, como parlamentares de Santa Rosa ou Porto Walter, mas insistiu que o padrão predominante confirma sua tese.
Pertencimento e “xenofobia política”
Um dos pontos mais enfáticos de sua análise foi o papel do sentimento de pertencimento na formação das lideranças.

“Aquele sentimento de pertencimento que torna o Acre um estado um pouco xenófobo deriva desses sete municípios do mapa antigo”, afirmou.
Esse fenômeno, segundo ele, explica distorções aparentes na representatividade eleitoral. Cidades com população equivalente, como Plácido de Castro ou Acrelândia, não alcançam o mesmo número de eleitos que Xapuri, por exemplo.

“É mais fácil alguém que mora em Xapuri dizer: eu vou votar nesse deputado porque ele é daqui, do que alguém que mora em Acrelândia fazer a mesma coisa”, comparou.

Carioca explicou também como a criação de novos municípios reforçou o poder dos antigos centros políticos. Ele classificou essas novas cidades como “municípios satélites”, reforçando a hegemonia das sedes originais:
• Cruzeiro do Sul atrai votos de Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo.
• Sena Madureira influencia Manoel Urbano e Santa Rosa.
• Tarauacá se articula com Jordão.
• Rio Branco mantém laços fortes com Quinari, Porto Acre e Bujari.

Segundo ele, isso explica por que Cruzeiro do Sul, com cerca de 11% do eleitorado, quase sempre emplaca dois deputados federais — “25% da representação”, como destacou.
“As pessoas desse entorno votam nos candidatos da sede principal. É histórico”, disse.

Carioca revelou que toda a estratégia eleitoral da Frente Popular era construída com base nesse mapa de influência. “A gente fazia uma estratégia montada a partir dessa relação, do ponto de vista geopolítico”, explicou.

Ele descreveu que compreender esse desenho era essencial para montar nominatas, distribuir candidaturas e definir onde concentrar esforços de campanha — um conhecimento que, segundo ele, poucos dominam.