O Ato solene em homenagem ao Dia do Policial Penal, realizado nesta terça-feira, 30, na Câmara de Rio Branco, foi marcado por um discurso contundente do policial penal James Peteca, que denunciou a precariedade das condições de trabalho da categoria e a falta de apoio do Estado.
Segundo Peteca, a realidade vivida pelos servidores do sistema penitenciário é de abandono e descaso. “Esse momento aqui não é de festa. É de reflexão. O colega que está ao meu lado tomou um tiro no rosto durante uma rebelião. Ele entrou na Justiça pedindo indenização de R$ 200 mil e o Estado disse que ele queria enriquecer ilicitamente. Isso é um absurdo. Ele perdeu a visão de um olho e tem o outro comprometido. E se fosse o filho ou o parente de quem deu esse despacho?”, questionou.
Quadro reduzido e sobrecarga de trabalho
O policial penal também destacou a redução do efetivo nos últimos anos, em contraste com o crescimento da população carcerária no Acre. “Quando entrei, em 2008, eram 1.200 agentes penitenciários, além de 400 da PM que reforçavam. Hoje, com mais de 5 mil presos, incluindo monitorados, só chamaram 170 aprovados no último concurso, quando tinham prometido 308. Isso é um desrespeito. Muitos largaram seus empregos para fazer o curso de formação e hoje estão passando necessidade”, denunciou.
Ele ainda relatou situações de dificuldade enfrentadas por candidatos durante o curso: “Teve mãe que, quinze dias depois de dar à luz, voltou para a formação. Pegou o dinheiro do enxoval para comprar fardamento porque disseram que todos seriam chamados. Mas isso não aconteceu. É um desrespeito às pessoas.”
Peteca também questionou a destinação de recursos anunciados para a segurança pública. “Semana passada estivemos com o ministro do Trabalho, que ficou surpreso com a situação. Agora vamos levar o tema ao ministro da Justiça. Disseram que enviaram R$ 100 milhões para a segurança, mas o que chegou para nós foram beliches, uma van e algumas guaritas no presídio do Quinari. Enquanto isso, em Cruzeiro do Sul, por exemplo, temos alas do Chapão com apenas dois policiais para cuidar de centenas de presos”, afirmou.
“O Estado nos pune”
Encerrando seu discurso, o policial penal lamentou a postura do governo em relação à categoria. “Hoje, quem mais pune os trabalhadores somos nós mesmos, através do Estado. O policial penal é tratado como descartável. Estamos sendo mortos pelo próprio Estado que deveríamos representar”, desabafou.
