Embora tenha vendido a ideia de fazer um governo do “diálogo”, colóquio é o que menos se viu nos quase 70 dias do atual governo do Acre. Quando se fala no rombo das contas públicas deixado como herança pelo ex-governador Tião Viana, do PT, a equipe econômica comandada supostamente pelo conselheiro Antônio Malheiros, de dentro do Tribunal de Contas do Estado, segue batendo cabeça. Pelo menos três versões diferentes foram apresentadas oficialmente, a última, com o DNA do poderoso marqueteiro Wilson Rodrigues na primeira peça publicitária da era Gladson Cameli.
Na quarta-feira de cinzas quando o governador Gladson Cameli negociava com técnicos da Caixa Econômica Federal (CEF) em Brasília a redução de juros nos empréstimos feitos pela gestão anterior junto à instituição, uma peça de publicidade – restrita a alguns órgãos de comunicação – anunciava um montante de R$ 800 milhões em dívidas encontradas nos cofres públicos.
Os números do marketing, bem superiores ao que foi anunciado oficialmente na Casa Civil, no dia 7 de fevereiro, mostram que a discussão em torno do orçamento do governo, internamente, ainda está “difusa” e cercada de idas e vindas. A equipe econômica já tinha dado a primeira ‘barrigada’ no início de fevereiro quando anunciou um total de R$ 244 milhões como déficit, depois, esse valor pulou para R$ 581 milhões.
Com tantas discrepâncias, o governo de Gladson Cameli (PP) entra no período de quaresma tendo que fazer uma verdadeira penitência. Afinal, qual é a real situação econômica do Estado?
Segundo o Notícias da Hora apurou, existem mais divergências do que consenso entre A secretária de fazenda Semírames Plácido, o chefe da Casa Civil Ribamar Trindade, o secretário de planejamento Raphael Bastos e o controlador geral Rui Oscar Guedes, quando o assunto gira em torno de receitas e despesas previstas para este ano.
Enquanto uma corrente do grupo entende que é necessário investir nos temas prioritários como infraestrutura já no início de abril, outra frente, formada principalmente pelos técnicos ‘importados’ do TCE, aconselha um andamento mais paulatino da recuperação econômica. Em debates calorosos chegou-se a cogitar a decretação de calamidade financeira, ideia descartada após o superávit de arrecadação nos meses de janeiro e fevereiro.
O descompasso na equipe explica, talvez, os três anúncios dos números sobre o déficit econômico encontrado nas contas pública, mas, tal desacerto tem tirado a paciência do governador Gladson Cameli que pressionado pelo setor produtivo não ver a hora de anunciar investimentos para aquecer a economia e gerar emprego e renda. Fazendo questão de estar longe desse estresse que tem movimentado os corredores da Casa Civil, Cameli segue em agenda no Planalto, em Brasília.
Bate cabeça sobre economia pode gerar espiral negativa e afetar população pobre
Entre o primeiro anuncio de rombo de R$ 244 milhões até a peça publicitária divulgada durante o carnaval, onde o valor saltou para R$ 800 milhões, existe uma diferença de R$ 556 milhões. O que levou o marqueteiro Wilson Rodrigues a divulgar tais números nem mesmo os melhores analistas econômicos sabem.
Se a crise flutua para mais ou menos dos R$ 556 milhões, o que os tecnicistas não estão dando bola é para o desgaste político que o tema vem gerando junto à opinião pública. Na Assembleia Legislativa, deputados da base do Palácio Rio Branco enfrentam dificuldades para defender o que chamam de paralisia gerencial do Estado.
As críticas de aliados estão alicerçadas no comentário de deputados mais experientes que não escondem, no salão azul da Assembleia, o medo de o Acre enfrentar a chamada espiral negativa. O deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) defende um choque para interromper o processo de paralisia que pode levar a uma reversão natural com a mudança do ciclo econômico. Para o comunista, o olhar de controladores no planejamento do estado poder estagnar a máquina pública afetando os mais pobres e tornando o sistema disfuncional.
O convite aprovado por unanimidade para que a secretária de fazenda, Semírames Plácido der explicações no parlamento sobre a edição dos decretos 356 e 357 – que ditam regras de licitação – deve ser apenas a ponta do iceberg, o que até deputados aliados desejam saber realmente é quanto o Estado tem em caixa para investimentos este ano.
Tantos questionamentos giram em torno de outro mistério guardado a sete chaves pelo Palácio Rio Branco, que diz respeito aos investimentos previstos para acontecer através dos empréstimos milionários feitos nos últimos anos junto ao BNDES, BID, BIRD e Caixa Econômica Federal.
Deputados comunistas e petistas que defenderam por duas décadas a bandeira de sustentabilidade com investimentos internacionais preparam uma avalanche de perguntas sobre os créditos e, ainda, na decisão de governo sobre o futuro do Instituto de Mudanças Climáticas (IMC).
A primeira publicidade da era Cameli que anunciava R$ 800 milhões de déficit foi retirada do ar antes mesmo do anúncio da quaresma. Para muitos, a medida tem o dedo do governador que aposta em um tempo “forte” com atenção aos necessitados.
Cameli anunciou no final de semana, redução nas taxas de juros por parte da Caixa Econômica Federal. Afirmou que pretende continuar negociando com todos os bancos a baixa nas taxas de empréstimos e garantir folego ao Estado. Católico, o governador prevê uma páscoa de prosperidades para as famílias acreanas. É esperar pela quarentena e a afinidade de sua equipe econômica.