Na semana que antecede visita de Lula à ilha, Jorge Viana tem audiência com o vice-primeiro-ministro Ricardo Cabrisas Ruiz. Encontro de alto nível restabelece compromisso de desenvolvimento e parceria entre as duas nações. Missão comercial está em Havana para recriar ambiente de negócios
As relações entre Brasil e Cuba voltam a ser prioridade para os governos das duas nações, que buscam aproveitar a tradição de seus laços históricos e culturais para dar um novo impulso nas relações políticas, diplomáticas e comerciais.
O vice-primeiro-ministro do governo de Cuba, Ricardo Cabrisas Ruiz, recebeu na manhã desta terça-feira, 5, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, além de uma comitiva de empresários e outros representantes do governo brasileiro.
A ideia é estreitar os laços entre os dois países, retomar projetos de cooperação e desenvolvimento econômico e social, além de estabelecer uma parceria produtiva entre Cuba e Brasil. “A volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder e a projeção de sua liderança no mundo é bem-vinda para toda a região das Américas e para os nossos povos”, disse Cabrisas Ruiz, que além de vice-primeiro-ministro de Cuba é ministro de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro.
A visita da missão brasileira à Havana antecede a ida de Lula a Cuba na próxima semana, quando viaja a Nova York, nos Estados Unidos, para participar da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
“O presidente Lula sempre deu grande importância às relações entre o Brasil e os países vizinhos da América do Sul, Central e Caribe. Estamos diante de um novo momento histórico da diplomacia brasileira e com muitas oportunidades para promovermos uma parceria estratégica entre Brasil e Cuba”, disse Jorge Viana.
O presidente da Apex declarou que a visita de Lula vai restabelecer os laços entre o povo brasileiro e cubano e tem grande significado para o novo momento do Brasil no cenário internacional. “Nos últimos seis anos, vivemos um apagão institucional do Brasil. Isso agora mudou com a volta da diplomacia presidencial”, aponta Viana.
O Brasil é o quarto maior fornecedor de produtos para Cuba, atrás da Espanha, China e Estados Unidos. “Vamos desenvolver uma estratégia de trabalho para ampliar as compras e vendas de produtos entre os dois países. Não faz mais sentido a política de isolamento comercial que o Brasil vinha experimentando e estabelecendo desde 2019. É a hora de avançarmos nos negócios para retomar o fluxo comercial com Cuba e toda a região do Caribe”, diz Jorge Viana. Ele lembra que, apenas no setor de turismo, Cuba e outros países da região recebem anualmente um fluxo 50 milhões de turistas.
A missão comercial brasileira que está em Cuba levou empresários dos setores de agricultura e alimentos, energia, indústria farmacêutica e os setores de máquinas e equipamentos de transporte e produtos químicos, além de transporte aéreo. Desde 2019, a compra de produtos cubanos e a venda de produtos e serviços brasileiros vem caindo paulatinamente, resultado da estratégia equivocada do governo eleito em 2018 de romper as relações históricas do Brasil com Havana.
“Isso foi um erro grave porque só promoveu prejuízos aos dois países. Vamos voltar a fazer negócios e promover um jogo de ganha-ganha para todos em Cuba e no Brasil”, destacou Viana.
No encontro com o vice-primeiro-ministro, o presidente da ApexBrasil anunciou que assina ainda nesta semana um memorando de entendimento com ProCuba, a agência que opera a promoção de produtos e serviços de Cuba, órgão ligado ao Ministério de Comércio Exterior e Investimento Estrangeiro. A ideia é estabelecer um cronograma de trabalho e projetos e ações na áreas de qualificação, inteligência e gestão de negócios, que permitam ampliar a compra e venda de produtos e serviços entre os dois países. “Temos tudo para estabelecer um novo momento na relação com Cuba”, disse Viana.
Com população de 11,3 milhões de pessoas e um PIB de US$ 24,3 bilhões, Cuba mantém relações comerciais com o Brasil desde a redemocratização, com o fim da ditadura militar brasileira em 1985. O comércio entre os dois países em 2022 estava na ordem de US$ 293 milhões, mas há possibilidade de ampliar essa participação a níveis históricos, como na primeira década dos anos 2000. Atualmente, o Brasil exporta óleo de soja, arroz, carnes de aves, milho, açúcar, café não torrado, papel, calçados e tubos de ferro e aço para a ilha caribenha. E importa de Cuba, charutos, bebidas alcóolicas e medicamentos. Até 2019, havia uma constante presença dos serviços cubanos de saúde, com a presença de profissionais de saúde que atendiam a população brasileira com o Programa Mais Médico, abandonado no início daquele ano pelo governo eleito em 2018.