Ministério da Saúde decretou emergência de saúde pública para combater desassistência de indígenas Yanomami nessa sexta-feira (20), um dia antes da visita do presidente. Quase 100 crianças Yanomami morrem em 2022
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou a Casa de Saúde Indígena Yanomami neste sábado (21) e classificou como desumana a situação vivida pelos indígenas em Roraima. A visita do presidente no estado ocorreu após o Ministério da Saúde declarar emergência de saúde pública para enfrentar à desassistência sanitária no território Yanomami.
"Se alguém me contasse que em Roraima tinham pessoas sendo tratadas dessa forma desumana, como vi o povo Yanomami aqui, eu não acreditaria. O que vi me abalou. Vim aqui para dizer que vamos tratar nossos indígenas como seres humanos."
Acompanhado de sete ministros, entre eles a da Saúde, Nísia Trindade, e Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, Lula e a comitiva ficaram por cerca de duas horas dentro da Casa de Saúde. Ao sair, todos se disseram impressionados com o que viram.
"Precisamos também responsabilizar o governo anterior por ter permitido que essa situação se agravasse ao ponto de a gente chegar aqui e encontrar adultos com peso de criança, e crianças em uma situação de pele e osso", disse Guajajara.
Condições da Casa de Saúde Indígena Yanomami foi registrada por Sonia Guajajara — Foto: Reprodução/Sonia Guajajara
A situação descrita pela ministra foi inúmeras vezes retratada em fotos e vídeos divulgadas por organizações indígenas que pedem o fim do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, apontando como o maior causador dos problemas na reserva.
Antes da visita de Lula, técnicos do Ministério da Saúde foram enviados para a Terra Indígena para elaborar u,m diagnóstico da situação. Em quatro dias, resgataram ao menos oito crianças Yanomami em estado grave, com quadros severos de desnutrição e malária.
"No caso da Saúde, nós definimos que isso é uma emergência sanitária de importância nacional semelhante a uma epidemia, é isso que precisa ficar claro", pontuou Nísia, acrescentando que o governo prepara um plano de trabalho.
"A força do SUS começará a vim a partir de segunda-feira (23) com mais profissionais médicos e enfermeiros para esse atendimento de emergência. Mas, sabemos que temos que melhorar a saúde onde as populações, onde os povos indígenas moram, nas suas comunidades", reafirmou.
Lula e a comitiva de ministros desembarcou às 9h49 na Base Aérea de Boa Vista. Ao chegar na Casai, foi recepcionado por indígenas que entoaram cantos ao vê-lo. Além disso, alguns seguram cartazes com pedidos de ajuda, como "Vidas indígenas importam" e "fora garimpo".
Crianças são as mais afetadas por doenças na Terra Indígena Yanomami — Foto: Condisi-YY/Divulgação
Estavam com Lula os ministros: Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Nísia Trindade (Saúde), Sônia Guajajara (Povos Indígenas), Flávio Dino (Justiça), José Múcio (Defesa), Silvio Almeida (Direitos Humanos), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), General Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional), e o comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno.
O secretário de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Weibe Tapeba, também integrou a comitiva. Tabeba já afirmou ao g1 que o combate à desnutrição e malária entre os Yanomami é prioridade.
"Um verdadeiro genocídio anunciado acontece na área que sofre com o garimpo ilegal e suas consequências. Fome, intoxicação e doenças infecciosas são algumas das enfermidades enfrentadas", disse Tabeba no Instagram, após a visita.
Mais cedi, no Twitter, ministra da Saúde, Nísia, já havia classificado como grave a situação. Segundo ela, foram registrados "3 óbitos de crianças entre 24 e 27/12 e 11.530 casos de malária no último ano."
Yanomami com cartaz "vidas indígenas importam" durante visita de Lula em Roraima — Foto: Caíque Souza/Conselho Indígena de Roraima/Divulgação
Técnicos do Ministério foram enviados para a Terra Indígena e, em quatro dias, resgataram ao menos oito crianças Yanomami em estado grave, com quadros severos de desnutrição e malária. Os servidores entraram na reserva na segunda-feira (16), em missão oficial para elaborar o diagnóstico da situação.
Somente em 2022, 99 crianças Yanomami morreram devido ao avanço do garimpo ilegal na região. As vítimas foram crianças entre um a 4 anos. As causas da morte são, na maioria, por desnutrição, pneumonia e diarreia.
O governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), e o prefeito de Boa Vista, Arthur Henrique recepcionaram o presidente e comitiva de ministros na Base Aérea.
Lula chegou na manhã deste sábado (21) em Roraima, acompanhado de Sônia Guajajara e Joenia Wapichana — Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação
Além da calamidade na saúde, também foi criado o Comitê de Coordenação Nacional, para discutir e adotar medidas em articulação entre os poderes para prestar atendimento a essa população. O plano de ação deve ser apresentado no prazo de quarenta e cinco dias, e o comitê trabalhará por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado.
A avaliação feita pelos integrantes o governo é que a situação sanitária no território caminha para uma "crise humanitária" – devido ao aumento de casos de desnutrição em crianças e ao avanço do garimpo ilegal na região.
“Recebemos informações sobre a absurda situação de desnutrição de crianças Yanomami em Roraima. [...] Viajarei ao estado para oferecer o suporte do governo federal e, junto com nossos ministros, atuaremos pela garantia da vida de crianças Yanomami”, escreveu Lula, em uma rede social, na sexta-feira (20).
Dados da (Sesai), obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), indicam que, ainda em 2021, 56,5% das crianças acompanhadas pelo governo no território Yanomami apresentaram quadro de desnutrição aguda – quando o peso é considerado baixo ou baixíssimo para a idade.