O ambiente na Bolívia é de enorme tensão após mais um pleito eleitoral supostamente fraudado que culminou na quarta eleição seguida do presidente Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS).
Desde a última segunda-feira (21) há conflitos em várias cidades bolivianas. Veículos incendiados e atentados a prédios públicos, além de confronto nas ruas entre a polícia e manifestantes.
Há ameaças de racionamento de serviços essenciais, como energia elétrica. O comércio também está ameaçado. Aeroportos podem ser fechados.
O Notícias da Hora conversou com a jornalista e médica acreana Débora Taumaturgo, que se formou em medicina em Cobija, capital do departamento de Pando, região da Amazônia boliviana na fronteira com as cidades brasileiras de Epitaciolândia e Brasileia, no Acre.
Após seis anos no banco de uma universidade na cidade boliviana, Débora tentou viajar nesta terça-feira (22) a La Paz, a capital administrativa da Bolívia para tentar a emissão de sua carteira profissional de médica, mas ficou impedida por causa dos conflitos. O documento é exigido pelo Conselheiro Regional de Medicina no Brasil para o processo de regularização profissional de um médico formado no país vizinho.
"Fui obrigada a cancelar o meu voo. Estava tudo muito parado, as pessoas com medo de sair de casa. Um movimento de poucas pessoas. Não tinha alunos em horário de escola. Anteontem, aqui na fronteira, como eu moro muito perto da ponte, a gente passou a noite escutando barulho de tiro, de bomba, gritaria", relata a médica.
Desde o dia que as manifestações estouraram há uma baixa frequência nas universidades. O medo toma conta dos estudantes. "Uma sala com 52 alunos só tinham seis, ontem. Os professores pedem para os alunos irem, mas eles têm medo. Os estudantes têm muito medo. Ninguém quer ir pra aula. No comércio está todo mundo comprando o que da pra garantir estoque de alimentação."
Débora Taumaturgo relata que é comum durante conflitos, opositores ao governo boliviano se refugiarem no lado brasileiro em casa de amigos.
"Quando acontecem esses conflitos esses opositores, que são muitos, pedem abrigo para os amigos brasileiros. Eles acabam vindo pro lado de cá porque aqui, eles não invadem.
Em La Paz, Potosí e Santa Cruz os comércios são invadidos. As pessoas passaram a estocar alimentos dentro de casa pelo medo do agravamento da crise. Apenas comerciantes aliados ao projeto de Evo Morales, protegidos pelo governo, mantêm seus estabelecimentos funcionando.
Nesta terça-feira (22), à noite, aviões do Exército boliviano pousaram no aeroporto Captain Aníbal Arab, na cidade de Cobija, a mando do governo.
OEA vê segundo turno como solução
"No Venezuela, esto es Bolívia", gritavam manifestantes nas ruas de Sucre, a capital constitucional da Bolívia, contra a quarta eleição de Evo Morales na segunda-feira, primeiro dia dos protestos. Evo ascendeu ao poder em 2006.
O candidato opositor, que aparece em segundo, é o jornalista e historiador Carlos Mesa, apoido pela Comunidade Cidadã (CC), uma frente de partidos pequenos, plataformas cidadãs e líderes regionais. Mesa é um centrista com algumas convicções liberais. Foi presidente da Bolívia entre 2004 e 2005 e era considerado à época pela esquerda boliviana um governante neoliberal.
No momento, com 96,78% das atas computadas, a apuração final dá uma diferença de 9,48% entre Morales e Mesa.
A Missão de Observação Eleitoral da OEA (MOE) na Bolívia considera como "melhor opção" a convocação de um segundo turno para resolver as disputas.