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POLÍTICA

Os Reis do Brasil

Os Reis do Brasil

Recentemente, li a biografia do jornalista e advogado Assis Chateaubriand, produzida pelo também jornalista e escritor Fernando Morais. O livro de mais de 700 páginas foi um presente que ganhei do professor e amigo João Carlos de Carvalho, um leitor contumaz de biografias.
 
Membro da Academia Brasileira de Letras, mecenas, literato e com forte predileção para o ramo da comunicação, Chatô - como era conhecido - foi uma das figuras mais polêmicas e influentes do Brasil, em meados do século XX.
 
Chatô foi dono do maior conglomerado de emissoras de rádios, TV's e jornais do País. Patrocinou a criação do Museu de Artes de São Paulo (Masp) e, quando enveredou pela política, foi duas vezes senador, por estados diferentes, em duas eleições claramente fraudadas.
 
Chamou-me a atenção, especialmente, o título do livro: "Chatô - O Rei do Brasil", que, no cinema, ganhou uma adaptação homônima, disponível na plataforma de streaming Netflix.
 
Não tenho muito a noção da dimensão desse título e nem do que levou o autor a defini-lo assim. Mas o fato é que ainda há muitos Reis no Brasil: Roberto Carlos, na música; Pelé, no futebol; Chatô foi o da comunicação. Todos nomes do século passado. Ainda tem o Rei do ônibus, preso pela Lava Jato, no Rio.
 
Neste limiar de século XXI, creio que não há espaço para o surgimento de um novo Rei. Não me refiro somente ao sentido monárquico da palavra. Mas, de modo geral, não se deseja a aparição de uma figura messiânica, de um salvador da pátria ou de alguém que tenha como principal desígnio promover o culto à sua personalidade. 
 
No tecido político-social brasileiro, há uma larga vacância para alguém com espírito de liderança, que conduza o País com maestria, que deixe marcas indeléveis na história, que coloque o Brasil no rumo do futuro.
 
A oportunidade foi dada a Lula e a Bolsonaro pela situação particular em que cada um assumiu o comando da Nação. O primeiro trocou um projeto de País por um projeto de poder e o resultado foi o xilindró. Sobre o segundo, não dá pra fazer uma avaliação terminante. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, príncipe dos sociólogos, disse que o presidente abusa da margem de desordem que todo início de governo permite.
 
Talvez esse Brasil de dentro, enrijecido para as grandes mudanças de um novo tempo, dificulte o advento e a ascensão um verdadeiro líder. Mas é possível vislumbrarmos um Brasil de fora, que aos poucos vai se aliançando e construindo um novo concerto, que, como no mundo inteiro, não se sabe como vai ser, mas está em processo permanente de transformação. É um sinal de alento.
 
 
Romisson Santos é professor e pós-graduado em Letras pela Universidade Federal do Acre