O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB) se entregou à PF (Polícia Federal) em sua casa, na noite de hoje, depois de atirar contra agentes de manhã. Ele cumpria prisão domiciliar pelo inquérito das fake news.
O ex-deputado reagiu à abordagem de policiais que cumpriam uma decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes de prendê-lo em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, a cerca de 140 km do Rio. Dois agentes ficaram feridos, atingidos por estilhaços, mas passam bem.
Jefferson deixou sua residência às 19h deste domingo em uma viatura preta, escoltada por outras duas, sendo uma caracterizada da Polícia Federal.
Manifestantes entoaram gritos de apoio ao ex-parlamentar. Equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio deixaram o local em seguida.
Pouco antes da saída do ex-deputado, um reboque retirou outro carro da PF que havia chegado mais cedo, com diversas marcas de tiros no para-brisa.
Mesmo depois da saída de Jefferson, policiais federais continuam na casa do ex-deputado. Eles não informaram que trabalhos estão sendo realizados. Quatro carros da PM (Polícia Militar) resguardam o acesso à residência.
Bolsonaro sobe tom contra aliado. Logo após o ex-parlamentar deixar sua casa escoltado por agentes da corporação, o presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou um vídeo no Twitter confirmando a prisão de Jefferson, que é seu aliado, e o chamou de "bandido".
"Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado em quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio".
-- Jair M. Bolsonaro 2??2?? (@jairbolsonaro) October 23, 2022
O ministro Alexandre de Moraes também se manifestou logo após a prisão, parabenizou a PF pelo trabalho e se solidarizou com os policiais feridos.
"Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos", escreveu.
Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos.
-- Alexandre de Moraes (@alexandre) October 23, 2022
Por que Jefferson foi preso? A ordem de prisão aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson. No despacho, Moraes pediu prisão, busca e apreensão e proibiu entrevistas.
A decisão ocorreu depois de Jefferson xingar a ministra Cármen Lúcia, do STF, e a comparar com "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet. Ele estava proibido de usar as redes sociais, justamente por outra ordem de Moraes.
A gravação foi publicada no perfil da filha de Jefferson, a ex-deputada federal Cristina Brasil (PTB), que teve a conta suspensa hoje.
Uma das medidas que ele deveria cumprir no período da prisão domiciliar é não publicar nas redes sociais.
O ex-deputado gravou vídeos em que confirma ter reagido à prisão contra agentes da PF, em sua casa, e chegou a dizer que não iria se entregar.
"Chega de opressão, eles já me humilharam muito, a minha família. Mas eu não estou atirando em cima deles. Eu dei perto, eu não atirei neles. Eu não atirei em ninguém para pegar. Atirei no carro e perto deles. Eram quatro, eles correram, e eu falei: 'sai porque eu vou pegar vocês'. Isso que vocês têm que saber. Eles vão vir forte e eu não vou me entregar. Chega. É muita humilhação", disse ele em um dos vídeos.
Padre Kelmon acompanhou negociações. Mais cedo, a pastora e ex-deputada Liliam Sá afirmou à imprensa que Jefferson entregou as armas após a chegada de Padre Kelmon (PTB).
Padre Kelmon, que substituiu Jefferson na disputa pela Presidência, foi ovacionado por um grupo de apoiadores ao chegar ao local e acompanha as negociações de perto.
Dezenas de apoiadores do ex-parlamentar se concentraram no local pedindo a liberdade dele. A pastora Liliam Sá conduziu uma oração com o grupo.
Em nota, 'injustiça'. Além dos vídeos, Roberto Jefferson divulgou uma nota. No texto, disse que a prisão domiciliar ocorreu por "decisão ilegal" e que "a injustiça todos os dias se renova sobre minha vida e da nossa família".
O ex-deputado afirmou ainda que os "superministros" não querem que seus atos como servidores públicos sejam criticados "ainda que promovam injustiças, gerando todo tipo de transtornos na vida dos brasileiros e nenhum sentimento de indignação à eles seja dirigido. É literalmente inaceitável", disse Jefferson.
O político criticou ainda a postura da OAB. "Nunca a Ordem dos Advogados saiu em minha defesa, para cumprimento da constituição ao qual jurou defendê-la", disse. Porém, salienta que em menos 24 horas dos xingamentos contra a ministra, a OAB acabou se movimentando a favor da magistrada.
"O palavreado chulo de indignação, de um indivíduo injustamente anulado civilmente é mais grave que a decisão, firme e deliberada, de conspirar contra cláusula pétrea da Constituição da República? Indignação seletiva é disfarce para guerra ideológica, manipulação das massas, conforme bem assentou a digníssima e competente Magistrada, Dra. Ludmila Lins Grilo."
O ex-deputado citou ainda os empresários que, em um grupo de Whatsapp, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja eleito. Jefferson disse que a indignação dele se deve a ver outros brasileiros - como os empresários - passando por situações semelhantes a dele.
"Agora as vítimas são dignos jornalistas e veículos idôneos de nosso país. Tudo isso ocorre 'às barbas', do Senado Federal, OAB, Procuradoria-Geral da República", disse Jefferson.
O político entende que as palavras dele "não produzem efeitos devastadores na vida de nenhum magistrado", mas que "continuam realizando à mim, minha família e todos brasileiros supra citados, com suas malsinadas e ilegais decisões, comprometem toda a segurança jurídica Nacional". O ex-deputado classificou a situação como "tirania".