..::data e hora::.. 00:00:00
gif banner de site 2565x200px

POLÍTICA

Soja ‘colhida’ por Gladson Cameli foi plantada no governo Tião Viana

As fotos feitas na sexta-feira passada do governador Gladson Cameli ao lado da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, colhendo os primeiros grãos de soja em uma fazenda da zona rural de Rio Branco, simbolizando aquilo que é propagado como a nova redenção econômica do Acre a partir do agronegócio - em especial pelo cultivo da soja - não são tão novidades assim.

A soja que era colhida pelos atuais mandatários acreanos foi plantada ainda durante o governo do petista Tião Viana (2011-2018). A gestão passada, que teve sua imagem vendida durante a campanha eleitoral de 2018 como não fomentadora e até perseguidora do setor rural, assegurou os investimentos necessários para que o Acre tivesse as suas primeiras áreas de soja.

O fomento provocou constrangimentos a Tião Viana dentro das alas mais radicais do petismo acreano, que se apresenta contra a entrada da soja no estado por vê-la como a grande indutora do desmatamento. Outro embaraço enfrentado pelo ex-governador foi ter ficado com o ônus da aplicação de uma multa ao fazendeiro Assuero Veronez, quando colocava no solo as primeiras sementes de soja.

A multa, contudo, não foi aplicada pelo estado, mas pelo governo federal por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) por a área plantada por Veronez - que controla a Federação da Agricultura e Pecuária - ter causado impactos em um geoglifo dentro de sua propriedade. Os desenhos geométricos são tombados como patrimônio cultural do país.

Os primeiros cultivos de soja no Acre ocorreram em outubro do ano passado, somando quase 2.000 hectares, com concentração nos municípios do Baixo e Alto Acre. Atualmente, apenas cinco grandes proprietários rurais decidiram investir no grão, uma das principais commodities exportadas pelo Brasil.

De acordo com o secretário de Agricultura de Tião Viana, José Carlos Reis, que acompanhou todo este processo de chegada da soja ao Acre, o governo garantiu apoio aos investidores com a aquisição de equipamentos, incluindo plantadeiras e colheitadeiras cujo valor unitário bate a casa do R$ 1 milhão.

tereza 01

Estes cinco cultivadores iniciais têm um perfil em comum: são pecuaristas donos de grandes áreas de terra que decidiram separar parte dela para apostar na soja. Segundo Reis, essa tende a ser a característica de potenciais novos plantadores do grão, o que pode travar o projeto do governo Gladson Cameli de tornar a soja o principal produto gerador de riquezas para o estado.

Na análise de Reis, a lucratividade rápida e elevada proporcionada pelo boi pode não levar os pecuaristas a deixar essa atividade de lado para apostar na soja, cujos resultados são a médio e longo prazos, o que também exige investimentos milionários em maquinário e em técnicas de plantação.

“Acho pouco provável o pecuarista abrir mão do boi nesse momento para investir em soja ou arrendar suas áreas para investidores de fora”, avalia o ex-secretário. Segundo ele, outra característica da commodity é que, para ser lucrativa, precisa ser realizada em elevada quantidade de hectares.

O ex-secretário que cuidava do setor rural no governo passado afirma que a área disponível para soja no Acre é pequena e está fatiada. “Quem planta soja ganha em escala. Você não ganha dinheiro com soja plantando 10, 20 ou 30 hectares. Precisamos de grandes áreas que estão nas mãos de pecuaristas e eles, dificilmente, vão deixar de investir em boi para aplicar R$ 5 milhões em equipamentos”, afirma.

Outro entrave nesse momento é de logística, com a falta de espaços para o armazenamento dos grãos. “Os nossos silos não têm capacidade de estocar grande volume de soja. Eles foram projetados para armazenar milho. Nossa base de armazenamento hoje no estado é de 27 mil toneladas.”

Com todo este prognóstico, José Reis comenta que o número máximo de produtores rurais acreanos dispostos a injetar volumosos recursos no plantio de soja não passe de 10, já incluindo os atuais cinco em atividade.

A questão ambiental

Apesar de hoje o atual governo afirmar reiteradas vezes que seus antecessores inviabilizavam a entrada da soja no Acre por questão de ideologia partidária, José Reis afirma que tal informação não procede. “A soja nunca foi proibida no Acre. O que havia era a necessidade de fazer o licenciamento, e isso foi abolido em 2018 no governo Tião Viana”, diz ele. De acordo com Reis, as regras ambientais mais rígidas só ficaram em vigor para as atividades agrícolas de “real potencial poluidor”.