O documentário “Um poeta na Amazônia”, dirigido pelo cineasta franco espanhol José Huerta, tem como protagonista o poeta acreano César Félix, e busca retratar a violência institucional do governo Bolsonaro, mas também mostrar um pouco da vida e dos valores indígenas por meio do povo Ashaninka, que vive na fronteira entre Brasil e Peru.
César Félix propõe a literatura e a poesia como formas de rebater o violento ambiente que tem dominado as redes sociais no período que fragmentou a sociedade brasileira, opondo interesses de grupos econômicos apoiados pelo atual governo e os povos indígenas.
“É inconcebível achar que os povos indígenas tenham que pedir desculpas, por serem indígenas ou que tenham que pedir favores da classe política. Na verdade, é o contrário disso: é a classe política quem tem de pedir desculpas, e favores, aos povos indígenas”, diz César Félix no documentário.
Apesar dos ataques, o poeta, que esteve na aldeia Apiwtxa do povo Ashaninka, em Marechal Thaumaturgo, acredita que a resiliência demonstrada pelos povos indígenas ao longo destes 500 anos de colonização demonstra que não será um governo que conseguirá acabar com eles, mesmo que essa seja a intenção.
“Se não conseguiram acabar antes, agora, com toda a articulação e com os povos indígenas dominando a linguagem e a técnica dos brancos, é que não vão acabar mesmo. Tem que ir pra cima”, diz.
Na aldeia Apiwtxa, o poeta vivenciou um pouco da realidade do dia-a-dia indígena, na relação da comunidade com a Floresta e com a biodiversidade nela contida. “Foi o mais próximo que estive de uma sociedade libertária, mas libertária em todos os sentido e dimensões, com respeito aos peixes e rios, aos pássaros, às árvores, à biodiversidade, à Floresta, ao ser humano e à família, em todas suas formas”, conta.
O documentário traz ainda a participação dos ashaninkas como protagonistas de um modo de vida próprio, menos dependente do sistema financeiro. “A nossa casa não é apenas esse espaço quadrado, essa habitação. Para nós, a Floresta é uma extensão de nossas casas. É isso o que muitas vezes as pessoas de fora não entendem. Tirar a Floresta é tirar a nossa vida”, diz Francisco Piyãko, liderança do povo Ashaninka.
“Nossa vida aqui é muito diferente. Se acabar a luz elétrica, pouco vai nos afetar, porque nada vai estragar, nada vai apodrecer. Nosso estoque é a Floresta, são os roçados. Nós não trazemos para dentro de casa para acumular”, explica.
Cientes dos ataques que o atual governo vem produzindo contra os povos indígenas, os Ashaninka buscam forças espirituais na Floresta e na sua cultura para resistir e continuar a sua vida e sua história.
“É a essa vida que nós temos dado continuidade, com respeito à toda diversidade dos seres humanos e não-humanos. E somos brasileiros. Somos brasileiros e vivemos nesse país, é aqui que vamos lutar pela nossa sobrevivência. O dia que nós (povos indígenas) acabarmos, tudo vai se acabar. Se nós morrermos, o Brasil vai junto”, finaliza o líder ashaninka Moisés Piyãko.
O Documentário “Um poeta na Amazônia”, está disponível on-line através do link: https://vimeo.com/643064744