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POLÍTICA

Venda de gado para outros estados movimenta a economia do Acre

Venda de gado para outros estados movimenta a economia do Acre

Em tempos de crise financeira, o mercado pecuarista acena com sinal de que está a cada dia mais forte no Acre. Se antes apenas os grandes fazendeiros conseguiam fazer bons negócios, agora, os pequenos produtores também estão vendendo gado com melhor preço e, consequentemente, ganhando mais dinheiro.

Um grupo formado por esses pequenos produtores procurou o portal Notícias da Hora para comentar sobre as novas oportunidades que o negócio está ofertando. Um deles, Paulo Guilherme Ferreira, pecuarista que atua no interior do Acre e já consegue vender gado para Rondônia e Mato Grosso.

“Primeiro, eu preciso dizer que esse ramo é uma oportunidade. Agora que podemos vender para fora, pagando os impostos devidos, me senti mais oportunizado à negociação, que é muito melhor quando vem de lá. Aqui tínhamos uma média de venda, cerca de R$ 820, mas agora consigo vender um bezerro desmamado, a cabeça, a uns R$ 1300”, conta.

O aumento no valor do gado acreano, banhado à arroba, que sofreu impacto interessante, remete à movimentação da economia acreana, que tem na pecuária uma “verdadeira mina de ouro”. Como avalia Paulo Guilherme, atualmente, cerca de 90% do gado local é de pequenos produtores, sendo os outros 10% dos grandes fazendeiros.

“Uma coisa que a gente precisa deixar claro, é que nunca vai faltar carne aqui no Acre, ou em Rondônia, e em nenhuma cidade desta nossa região. Por que? A gente que estuda, que vive isso, sabe: 80% da produção é fêmea, é para cria, e os outros 20% apenas para corte”, comenta Guilherme.

Isso quer dizer, em outras palavras, que tem mais gado de produção, do que de corte, ou seja, à medida que se abate, nasce muito mais. Levantamento da Universidade Federal de Minas Gerais, publicado em 2019, criou a expectativa de que até 2031, o gado acreano chegue ao rebanho de 4 milhões.

Contudo, segundo o estudo, a tecnologia em baixa pode prejudicar. Justamente por isso os pequenos produtores correm em procurar novos investidores e compradores. Com a arroba em alta, é possível fazer mais aplicações em genética, visto que o rebanho acreano é tido como um dos melhores do país.

“Para você ter ideia, 30% disso que vendo é para reinvestir. Estou aplicando na genética, com profissionais habilitados. O que é interessante é que somente agora, com o mercado aberto, estou tendo essa oportunidade. Claro que é devagar, mas estou conseguindo alcançar minhas metas pessoais”, pontua Paulo Guilherme.

O pecuarista que prefere se apresentar apenas como um pequeno produtor do interior, destaca que a carne do Acre é boa. “O exemplo de que é boa está na fiscalização dos órgãos. Não tem como fazer nada errado, como ter um ponto fora da curva do crescimento. Tem controle, tem tecnologia que fiscaliza, e isso ajuda no marketing da nossa produção”, destaca.

GADO 03

O gerente de um dos frigoríficos que tem comprado o gado acreano, André Nobre, conversou com a reportagem por telefone. O executivo destaca que a carne acreana tem credibilidade pela boa genética, forte fiscalização e valor. Lembra que Rondônia também está no caminho, e a questão livre de aftosa, se destaca.

“Estamos com nosso pessoal em campo, fazendo levantamento, captando novos fornecedores. A carne do Acre é de primeira qualidade, nós acreditamos nisso. Agora, com o estado ficando livre da vacina contra a aftosa, por exemplo, estamos nos preparado, porque sabemos que o valor deve aumentar”, destaca.

Nobre completa que apesar de rumores dando conta que pode faltar carne no Acre e de que a venda para o Mato Grosso, por exemplo, é ruim para o estado, as alegações não passam de falácia e estratégia de empresários que não querem o desenvolvimento do estado no setor. André Nobre faz um alerta.

“Todos os estados tem interesse em vender seu produto para fora. O que me pergunto é o porquê no Acre isso não pode acontecer. São alguns empresários, pessoas ligadas a grandes empresas, que se aliam para que a arroba fique mais barato, e isso prejudica o produtor. Se vender para cá, isso aumenta, melhora o mercado, a competitividade”, frisa.

Como se sabe, o mercado competitivo melhora a concorrência e a qualidade do produto precisa ser a cada dia, mais melhorada. O pecuarista Fernando Nóbrega pontua que vender mais caro implica no investimento mais forte por parte do produtor. Ele destaca que está estudando formas de fazê-lo.

“Quando eu ia aos encontros, para aprender sobre esse mercado, sempre ouvi que ‘o Acre é o paraíso do gado’. Tenho visto que isso é verdade. Apesar de eu ter poucas cabeças em relação a outros fazendeiros, hoje consigo ganhar um bom dinheiro. Foram quase dois anos me preparando, investindo, para hoje colher meus frutos”, pontua.

“Consegui vender esse mês a 170 reais a arroba. Foi um bom valor. Se você não sabe, 15 quilos a 170 reais, está ótimo. Logo quando comecei fiquei até dois meses sem conseguir vender, porque o valor era muito baixo, e eu me sentia obrigado a vender para essas empresas daqui, que não valorizam”, lembra.

Nóbrega, contudo, percebeu que não havia mais lucro em vender aqui. Não o lucro desejado. “A gente faz um investimento, e que tirar lucro disso. Vender barato, um bom produto, não é justo. Até porque a gente sabe que eles matam barato e vendem caro para fora. Então prefiro vender direto para fora, porque eles transportam do mesmo jeito”, completa.

Ainda contrapondo as alegações de que faltará gado no Acre, e afirmando que o pequeno produtor tem perdido no jogo, o pecuarista Francisco Alencar pontua que com a permanência do bezerro em solo acreano, os empresários e grandes fazendeiros continuam ganhando muito dinheiro, o que levanta suspeita.

“Eu me pergunto todo dia, desde que começou essa conversa de que vai faltar carne, de que vai ter desemprego: ‘Então quer dizer que baixa o imposto para sair o boi gordo, que esse boi pode ir embora, mas que os empresários são contra o bezerro ir para outros Estados?’ Eu acho que essa história não está bem contada”, frisa o produtor.

O pecuarista garante que no Acre não há risco algum de acabar a carne. “Pergunte aos produtores sobre isso, pergunte aos empresários, pergunte aos fazendeiros. Acaba tudo, acaba o dinheiro, mas não acaba o gado no Acre. Aqui é um celeiro de carne, esse risco é ilusão”, completa Nóbrega.