..::data e hora::.. 00:00:00
gif banner de site 2565x200px

POLÍTICA

Walter Prado afirma que o Acre virou uma anarquia onde a cúpula de segurança não se impõe sobre o crime

Ex-diretor de Polícia Civil e ex-secretário de Segurança Pública lançam um olhar sobre a violência no Acre. Walter Prado e Emylson Farias comentam os 80 dias de Gladson Cameli na Segurança Pública do Acre

O Acre registrou 71 homicídios nos primeiros 80 dias de 2019, sendo que 15 deles só nos últimos 20 dias de março. Por isso, o Notícias da Hora resolveu ouvir duas autoridades quando o assunto é Segurança Pública. Cada uma delas emitiu sua opinião. O primeiro ocupou a direção da Polícia Civil do Acre, na gestão do então governador Jorge Viana (PT). Delegado de Polícia aposentado, Walter Prado comenta os números e aponta caminhos para tirar o Acre da lista de crimes hediondos no País.  

O segundo, também é delegado de carreira e segue na ativa. Emylson Farias foi secretário de Polícia Civil e secretário de Segurança Pública nas gestões de Tião Viana (PT). Mais cauteloso, Emylson vê a pasta que ocupou como “complexa” e que “envolve vários fatores”.

Walter Prado e sua força-tarefa. Será que resolve?

Ao debruçarmos sobre a fala de Walter Prado, ele traça uma linha do tempo. Diz que no período em que ocupou a direção da Polícia Civil, os índices de homicídios eram em média de 28 por ano. Hoje esse número é alcançado em meses. Ele também lembra que em sua gestão foi o período em que mais se elucidou crimes, 94%. Para ele, falta a atual gestão visão de preventiva.

“Em relação à segurança pública praticamente não houve nenhuma mudança né, na prática. Por quê? Porque o pessoal que o governador indicou é o mesmo pessoal que já estava aí há 8 anos com o Tião Viana, apenas deslocou de um lugar para outro, é o mesmo pessoal. Na minha avaliação, nós temos a melhor polícia do Brasil tanto a tanto a Polícia Militar quanto a Civil. Agora a visão é que não combate. Não se combate quando não se elucida. Temos 500 e poucos crimes sem autoria. Se você não elucida, você não combate nunca. Por quê? Porque as pessoas vê que matar é bacana. Não vai preso. Quinhentos crimes sem autoria quando na realidade já tivemos esse índice de 94% de elucidação no Acre. Agora a visão é que está errada, isso é bíblico: onde não há visão o povo perece”, diz Prado.

Impunidade

Para o Xerife, como também é lembrado no meio policial, a ausência de chegar aos autores dos delitos gera impunidade. Ele pontua que sobre as facções criminosas foi criada “uma capa” que encobre todos os delitos e tudo é debitado na conta de algo que para ele não existe.

“Quando não se elucida, há um estímulo. Com essa capa de organização criminosa vai deixando, vai deixando... A visão não é essa. A sociedade está pagando isso muito caro. Nos bairros periféricos o pessoal está apavorado, não sai de casa, tem toque de recolher. Quer dizer: virou uma anarquia esse Estado. Um Estado anárquico, onde o Estado não se impõe com nada. Essa história que fulano vai acompanhar operação, isso é fake. Polícia tem que combater é com carros blindados, crimes hediondos não ficar impune. Quer dizer, é jogo bruto, não é esse joguinho de meio de rua para fazer média, não. Isso venho dizendo há 8 anos quando estava deputado e continuo dizendo”, diz Walter Prado ao comentar o modelo de gestão implantado pela Segurança Pública.

A indústria da multa

Walter Prado não poupou críticas ao governo de Gladson Cameli que, através do Detran/AC, emprega a força policial para fazer abordagens ao cidadão comum. Para ele, a autarquia deveria dispor de um corpo técnico que realizassem as blitz e um pequeno efetivo da PM apenas para resguardar a segurança dos servidores.

“As 4 horas da tarde você vê a polícia mobilizada na rua para extorquir, a realidade é essa, para dar multa, apreender carro para arrecadar. Polícia tem que combater crime, tá certo?! Aí o órgão tem que ter uma equipe do administrativo para ficar verificando situação de carteira e não usando a Polícia Militar para esse tipo de ação não. Polícia tem que está nas ruas. A sociedade está vivendo uma espécie de pânico”, disse.

O delegado aposentado, ao falar especificamente da força-tarefa, disse é necessária uma ação permanente, iniciando na quinta-feira e encerrando no domingo à noite. Ele argumenta que são nesses dias os maiores registrados de ocorrências.

“Eu defendo uma força-tarefa permanente. São nesses dias que o tráfico se movimenta. Eu criei a força-tarefa no Acre, na época com 40 homens que levamos o Acre ao melhor índice de elucidação do Brasil, levamos ao menor índice de homicídios. No último ano que estive à frente da Polícia Civil no Acre o maior número de homicídio por ano foi de 28 homicídios, hoje nós temos isso aí por mês. Aí dizem: ‘ah, mudou’. Não mudou nada, é a mesma coisa. Se hoje voltar a fazer do mesmo jeito leva para o mesmo índice, agora tem que fazer um jogo verdadeiro, não é essa besteira de prender veículo que não pagou imposto. Polícia não é para isso, não, na minha concepção”, reitera.

Sobre as polícias

Isentando agentes de polícia e policiais militares, o ex-diretor da Polícia Civil disse que os policiais seguem os comandos repassados pelos chefes das pastas. “Temos uma polícia integra tanto Civil como Militar. Agora, eles são obrigados a seguir os comandos. Agora se não há uma visão de prevenção, então pronto, querem ficar só contando defuntos, o que o policial pode fazer? Ele segue o comando, a visão. Eu vou continuar falando sobre segurança, vou disputar eleição falando sobre segurança e vou continuar sempre sendo o cidadão que luta por isso”, disse o Walter Prado reafirmando que em 2020 disputará uma vaga de vereador em Rio Branco e terá como proposta a apresentação de um anteprojeto de lei sugerindo a criação da Guarda Municipal.

Finalizando, o delegado revela que, com a crescente onda de violência e sua veia ativista pela segurança pública, sofreu ameaças. Como medida de segurança, ele teve que mudar de uma residência para um apartamento, um ambiente “mais seguro”.

“Eu fui obrigado, eu mesmo, que sempre tive casa, fui obrigado morar em apartamento. Por quê? Porque fui ameaçado. Agora uns merdas desse aí. Isso se resolve em três meses”, finaliza.

Segurança sob o olhar de Emylson Farias, de secretário de Segurança a candidato a vice-governador do Acre

Diferente de Walter Prado, mais comedido nas palavras, o ex-secretário de Segurança Pública, Emylson Farias, disse que a Segurança Pública não pode ser politizada. Ele lamenta que durante sua gestão, adversários, que hoje ocupam o Palácio Rio Branco, tenham politizado o tema. Otimista, mas reconhecendo que a Segurança Pública é uma pasta cheia de variantes, ele afirma que sofreu muitas criticas, entretanto, sempre as encarou como naturais.

“Olha por questão ética eu prefiro não me manifestar. Acho que sempre encarei a critica como natural. Segurança Pública nunca deveria ter sido politizada, foi muito politizada. Eu não quero trilhar o mesmo caminho, não. Estou aqui torcendo para que as coisas não melhorem. Sei da complexidade, sei que essa é uma pasta difícil. Como sempre disse: envolve vários fatores. Torço muito para que as coisas melhorem.

E acrescenta ao falar mais sobre as críticas que sofreu enquanto secretário e ao assumir que seria candidato a vice-governador na chapa de Marcus Alexandre ao governo do Acre. “Sofri. Mas eu acho que isso é natural do cargo. Sempre encarei isso como natural, por isso que acho que nunca deve ter politização da pasta. Sofri muito por questões, principalmente depois que fui pré-candidato a vice. Antes eu era menos criticado, depois fui muito mais. Mas, isso é normal, faz parte, eu estou torcendo para que as coisas melhorem. Sou acreano, sou delegado de Polícia, o que eu puder fazer para ajudar a melhorar, dentro das minhas possibilidades, eu vou fazer. Não sou daqueles que sai e fica torcendo para que dê errado não. Torço para que dê certo, agora sei que é muito complexo, como sempre disse e prefiro continuar com a coerência de sempre, e prefiro não entrar nesse tipo de comentário. Sinceramente nem comentar esse tipo de coisa”, argumenta Farias.

O que diz o atual secretário de Segurança Pública Paulo Cézar dos Santos

O secretário de Segurança Pública do Acre, coronel Paulo Cézar Rocha dos Santos, falou a respeito dos 80 dias de gestão. Para ele, os resultados alcançados são satisfatórios para este primeiro momento. Ele acrescenta que a partir do segundo semestre com o aporte de recursos, a Segurança Pública alcançará índices aceitáveis. Ele reconhece que os números obtidos ainda são tímidos diante da complexidade que é a Segurança Pública do Acre por ser um estado de fronteira.

“O resultado, de certa forma é satisfatório. Atingimos aí indicador esperado. Patamares aceitáveis no patamar nacional e mundial, nós tivemos uma redução em números gerais de 1º de janeiro a 21 de março, que alcança mais de 27% em todo Estado. Esse patamar é menor aqui na capital, 22%. De qualquer forma é uma redução significativa, mas está muito aquém. Com a implantação da metodologia gestão por resultados que até o final desse semestre e com o aporte de recursos, principalmente cm investimentos que vão ocorrer até o final do mês de junho, nós teremos condições de trazer a patamares aceitáveis para a sociedade”, comenta.

Sobre as fronteiras

“É fato, mas não só se limitado ao Estado do Acre, é uma realidade nacional. Nós temos um sério problema de competências em relação as responsabilidades de fronteira e consequentemente esse fato acarreta o aumento de indicadores, não só nos estados fronteiriços mas nos demais também, temos uma fronteira estendida ao interior de todo País, em razão dessa atuação inconsequente de algumas órgãos com relação a fronteira, mas ao Estado cabe  dever de casa. Nesse sentido, o planejamento estratégico está sendo estabelecido e buscará também independente da competência do Estado combater os crimes de fronteira”, diz Paulo Cézar.